quinta-feira, 9 de abril de 2015

Série sobre água 3



O uso da água

Objetivo(s) 
Compreender as noções de uso da água, uso com intervenção e sem intervenção e uso sustentável dos recursos hídricos.
Analisar os diferentes usos da água e suas repercussões na distribuição e disponibilidade do recurso.
Reconhecer e analisar práticas e situações que comprometem a disponibilidade de água no Brasil e no mundo e examinar propostas para seu uso sustentável.

Conteúdo(s) 
Água: usos, consumo, disponibilidade e sustentabilidade. Poluição da água
 Ano(s): 1º ao 5º
Tempo estimado :  Quatro aulas

Material necessário 
Planeta Sustentável
Infográficos

Desenvolvimento 

1ª etapa 
Introdução 
Este é o terceiro plano de aula de uma série de cinco propostas para trabalhar com os estudantes a questão da água. No primeiro plano - A água no cotidiano -foram desenvolvidas atividades sobre o ciclo da água e seus caminhos na natureza. Já no segundo plano - A oferta de água - foi examinada a distribuição do recurso nos diferentes países e regiões do planeta. Examinamos em detalhes o caso do Brasil, que conta com 12% das águas superficiais do planeta, mas mesmo assim convive com a escassez em diversas regiões. Vale lembrar que apenas 2,5% de toda a água existente na Terra é doce e somente um terço disso está pronto para o consumo.
Agora, vamos examinar mais de perto os usos da água, tanto para o abastecimento doméstico como para o uso industrial e agrícola, analisando também perspectivas para seu reaproveitamento. No próximo plano, estarão em foco medidas e propostas para a gestão dos recursos hídricos.
Qual é o destino da água disponível? Quais são os setores que mais consomem água no mundo? E no Brasil, como é essa proporção? Existem usos que não comprometem as reservas? Quais são eles? Essas são algumas indagações importantes quando o assunto é a água. Elas podem ser consideradas pontos de partida para projetos de trabalho, sequências didáticas e aulas sobre o tema.

Peça que, em pequenos grupos, todos preparem listas com os usos possíveis da água. Para desenvolver o trabalho, o professor deve levar em conta os seguintes aspectos: abastecimento humano (beber, tomar banho, cozinhar, lavar objetos), agricultura e criação de animais (dar de beber ao gado, irrigar cultivos, lavar instalações etc.), indústrias e estabelecimentos comerciais e de serviços, navegação, pesca e aquicultura, geração de energia e outros. Eles podem conversar com familiares e outras pessoas para ampliar a lista. Na próxima aula, devem apresentar os resultados para os colegas.

2ª etapa  

Peça que a garotada apresente os resultados das aulas anteriores em classe e organize uma roda de conversa sobre o assunto. Você pode ler em voz alta alguns dados do quadro "Onde a água é usada" (abaixo), destacando o peso acentuado da agropecuária. Em seguida, proponha que os alunos escolham alguns itens da lista e façam desenhos representando a utilização de recursos hídricos. Peça que representem, para o caso do Brasil, as prioridades definidas para o uso de água de acordo. Para este trabalho, leve em conta a legislação vigente, que prioriza o consumo humano e animal em situações de escassez. Os desenhos, acompanhados de textos e figuras, podem compor painéis feitos em pequenos grupos para serem expostos na escola.

Fonte: Aquastats (Relatório da FAO-ONU de 2003); World Development Indicators (Relatório do Banco Mundial, de 2003); Atlas da Água (2005), de Robin Clarke e Jannet King
 
Avaliação 
Para as turmas do Fundamental I, é importante levar em conta a participação de cada aluno nas tarefas coletivas e individuais e verificar como cada um representa os diferentes usos e destinos da água disponível. Verifique a diversidade de imagens e textos nos painéis propostos. 

Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
O Atlas da Água, de Robin Clarke e Jannet King. Publifolha, 2005. Publicação com dados e estatísticas atualizados, conflitos pelo uso da água e prognósticos sobre sua disponibilidade.
INTERNET
O Ministério do Meio Ambiente detalha a Política Nacional de Recursos Hídricos
O Instituto de Biociências da USP aborda a poluição da água

Material:

 Poluição e desperdício reduzem a água disponível no Brasil

O país é rico em disponibilidade de água, com 12% do total do mundo, mas a distribuição no território é muito desigual
Por Sérgio Adeodato - Guia do Estudante - Atualidades e Vestibular 11/2009
Se o assunto é água, o Brasil é um país privilegiado. Sozinho, detém 12% da água doce de superfície do mundo, o rio de maior volume e um dos principais aqüíferos subterrâneos, além de invejáveis índices de chuva. Mesmo assim, falta água no semi-árido e nas grandes capitais, porque a distribuição desse recurso é bastante desigual. Cerca de 70% da reserva brasileira de água está no Norte, onde vivem menos de 10% da população. Enquanto um morador de Roraima tem acesso a 1,8 milhão de litros de água por ano, quem vive em Pernambuco precisa se virar com muito menos - o padrão mínimo que a ONU considera adequado é de 1,7 milhão de litros ao ano. A situação pode ser pior nas regiões populosas, nas quais o consumo é muito maior e a poluição das indústrias e do esgoto residencial reduz o volume disponível para o uso. É o caso da bacia do rio Tietê, na região metropolitana de São Paulo, onde os habitantes têm acesso a um volume de água menor do que o recomendado para uma vida saudável.
Além da poluição, o que preocupa a maior metrópole do país é a ocupação irregular das margens de rios e represas, como a de Guarapiranga, que mata a sede de 3,7 milhões de paulistanos. A seu redor, vivem cerca de 700 mil habitantes. Com o desmatamento das margens para a construção das casas, grande quantidade de sedimentos foi arrastada para a represa, que perdeu sua capacidade de armazenamento e ainda recebe o esgoto de muitas residências. O problema se repete na represa Billings, também responsável pelo abastecimento de São Paulo. Esse manancial é destino final das águas poluentes que são bombeadas dos rios Tietê e Pinheiros para manter seu curso.
A alternativa foi trazer água de uma bacia hidrográfica vizinha, a do rio Piracicaba-Jundiaí-Capivari, que abastece a metade da metrópole paulistana. Isso acabou gerando uma disputa regional. No total, 58 municípios compartilham esse manancial, e a solução foi criar o Banco das Águas, um acordo que estabelece cotas de captação para a região metropolitana de São Paulo (31 metros cúbicos por segundo) e para o conjunto dos municípios da região de Piracicaba (5 metros cúbicos por segundo). Nesse sistema, tanto um lado como o outro podem ir além desses limites como compensação, caso tenha retirado menor quantidade de água em períodos anteriores.

DEMOCRATIZAÇÃO DA ÁGUA

Essa política de uso das águas foi definida por um comitê, formado em 1993, para acabar com a briga sobre quem tinha direito a que nessa bacia hidrográfica. Esse modelo, pioneiro no Brasil, inspirou quatro anos depois a Lei das Águas, dando a possibilidade de criar em nível nacional um sistema que harmonizasse os diversos usos dos mananciais - geração de energia, abastecimento da população e irrigação de cultivos. A Agência Nacional de Águas é o órgão do governo federal responsável pela gestão dos recursos hídricos no país. Esse trabalho é conduzido em parceria com os Comitês de Bacia, que se espalharam no Brasil, após a nova legislação. Os comitês reúnem representantes da sociedade civil em cada região para sugerir iniciativas para preservar os rios e evitar conflitos.
A atual legislação reconhece os vários usos para a água e determina que a prioridade seja sempre para o abastecimento humano e animal. O Brasil tem 89,1% da população urbana com acesso a redes de distribuição de água. Nas residências rurais, a situação é menos confortável: só 17% são atendidas. O uso doméstico e industrial corresponde hoje a 30% de todo o consumo do país. O setor que mais utiliza recursos hídricos é a agricultura, com 70% do consumo. 

MELHORAR O USO
Um dos meios para equilibrar essas necessidades é a cobrança pelo uso dos rios por indústrias e outros agentes econômicos. Criado a partir da Lei das Águas, o sistema é aplicado nas bacias dos rios Piracicaba-Jundiaí-Capivari e do Paraíba do Sul, e há projetos para o início da cobrança em outras regiões. Como resultado, para diminuir custos, muitas indústrias cortaram o consumo pela metade. Associado a isso, reduzir o desperdício é uma das medidas para preservar mananciais. Outras iniciativas são o reúso de água por indústrias e a reciclagem de esgoto para irrigar jardins e lavar ruas.
O grande problema de água do Brasil é, sobretudo, seu mau uso. Em razão de uma rede de distribuição obsoleta, avariada e insuficiente para atender a população, 40% de toda a água encanada se perde. Além disso, mais da metade dos municípios brasileiros ainda não têm rede de esgoto, o que reduz a água potável disponível para o consumo da população.

                         ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
Uma importante fonte potencial de abastecimento são as águas subterrâneas, aquelas que ocupam os espaços existentes entre as rochas do subsolo e se movem pelo efeito da força da gravidade. Seu volume é calculado em cerca de 100 vezes mais do que o das águas doces superficiais (rios, lagos, pântanos, água atmosférica e umidade do solo). No território brasileiro, as reservas de águas subterrâneas em aquíferos são estimadas em 112 trilhões de metros cúbicos, e o mais importante deles é o Aquífero Guarani.
Trata-se da principal reserva subterrânea de água doce da América do Sul e ocupa 1,19 milhão de quilômetros quadrados. Esse aquífero se estende pelo subsolo de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina e por partes do território do Uruguai, do Paraguai e da Argentina. Uma camada de rocha basáltica retém as águas e as protege de contaminação. Pelos atuais estudos, o Aquífero Guarani tem armazenados 45 trilhões de metros cúbicos de água, dos quais 160 bilhões são extraídos por ano para diversos fins. No momento, ainda é pouco usado para esse fim, embora haja poços artesianos que captem suas águas. Em pontos nos quais chega mais perto da superfície, já está sofrendo ameaças de contaminação

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/conteudo_345578.shtml
Líquido precioso
A poluição e o mau uso de mananciais ampliam a escassez hídrica e fazem do acesso à água potável um foco de tensão em diversas partes do globo
O corpo humano é composto de mais de dois terços de água. Para manter a saúde, precisamos bebê-la várias vezes ao dia. É condição básica para a existência da vida; faz parte da rotina de todos. Com ela, escovamos os dentes, tomamos banho, lavamos roupa e louça e ainda geramos energia elétrica, produzimos alimentos, movemos indústrias, transportamos mercadorias e aproveitamos o lazer. O planeta, fornecedor dessa fonte vital, também precisa dela para manter-se saudável – e garantir o equilíbrio do clima e dos ambientes naturais. Não é por acaso que a água simboliza a vida. O problema é que se torna um bem cada vez mais escasso. Mais que isso. Disputada como um tesouro raro e precioso, ela pode se transformar em motivo de violência e guerra, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, calcula-se que 2,2 bilhões de habitantes, quase um terço da humanidade, sofre com a falta de água potável. Em 20 anos, serão 3,9 bilhões com sede.


Estima-se que a principal disputa no planeta nos próximos 50 anos não será por petróleo, ouro ou carvão – mas por água. O alerta consta do relatório divulgado pela ONU no Dia Mundial da Água. Dentro de um cenário de crise, aumenta a briga pela posse e pelo uso desse recurso. A questão preocupa, porque a desigualdade e a escassez tendem a aumentar os conflitos. Além de atritos entre grupos rivais em um mesmo país, há embates diplomáticos entre nações e outras desavenças que podem culminar nas próximas décadas em confrontos armados pelo controle de mananciais. O relatório identifica 46 países nos quais há risco de essa crise provocar brigas. O perigo é maior entre nações que vivem escassez e compartilham o uso de rios e lagos. Existem no planeta263 bacias hidrográficas transnacionais, abrangendo 145 países. Mais de 40%da população mundial habita essas áreas, como o mar Cáspio e o mar de Aral, na Ásia; o lago Chade e o lago Vitória, na África, e os Grandes Lagos da América do Norte.
Em alguns casos, as fontes são disputadas litro a litro, como no Oriente Médio, onde dominar a água é estopim de guerras desde a Antiguidade. Israelenses e palestinos lideram as disputas. Sob o solo do deserto, estão os lençóis da Cisjordânia. Até 1967, os palestinos usavam essa água à vontade, mas a ocupação israelense, após a Guerra dos Seis Dias, acabou com isso. Os poços são controlados por militares israelenses. E qualquer acordo de paz para a Faixa de Gaza exigirá um capítulo especial para a água.

CRESCE A BRIGA
Israelenses e palestinos, por sua vez, confrontam a Síria e a Jordânia pelo controle do vale do rio Jordão, a principal fonte de água da região. Exaurido pela mineração, pela irrigação e até pela manutenção de campos de golfe no deserto, o Jordão está minguando. Apenas um terço do volume original chega ao mar Morto, que pode sumir até 2050 e se resume a um lago sem vida, seis vezes mais salgado que o oceano. Não muito longe dali, a Síria briga com a Turquia e o Iraque pelo uso da bacia que envolve os rios Tigre e Eufrates. Dona das nascentes, a Turquia represou o Eufrates para gerar energia e irrigar cultivos e diminuiu a água que chega aos países vizinhos. O maior foco de conflito foi a represa de Ataturk, construída pelos turcos na década de 1990, mas novos projetos colocam em risco a paz. Na Ásia Central, a tensão também é crescente. O Tadjiquistão e o Quirguistão controlam 90% das reservas da região. Mas o Uzbequistão é o maior usuário e pede acesso facilitado.
Mais de 400 tratados internacionais envolveram o uso compartilhado de recursos hídricos desde 1820 – sem contar os acordos sobre navegação, pesca e demarcação de fronteiras. Um dos exemplos acorreu na Ásia, depois que Bangladesh passou 20 anos de escassez porque a Índia construiu a enorme represa de Farakka no curso do rio Ganges, para conseguir a maior quantidade de água antes do rio atingir o território de Bangladesh. O conflito só cessou após aassinatura de um tratado em 1996 para uso compartilhado da água. Mas o potencial de discórdia continua latente no percurso do rio Ganges, que nasce no Himalaia, atravessa a Índia e desemboca na baía de Bengala, em Bangladesh. Essa bacia reúne mais de 30 barragens e desvios que reduzirama vazão do rio em 60% na estação seca, prejudicando os bengaleses.
Há também disputas na África, onde a ONU estima que o acesso às fontes hídricas seja a causa número 1 de guerras até 2030. Na região do Nilo, nove países dependem desse rio para abastecer a população. O Egito faz pressão econômica e militar sobre a Etiópia e o Sudão, situados nas cabeceiras do rio, para que não construam barragens e diminuam o volume de água no trecho egípcio. Em Darfur, oeste do Sudão, a guerrilha é acusada de envenenar reservatórios para forçar a população mulçumana a abandonar a região. Os conflitos têm o potencialde expandir seus efeitos por outras regiões. A União Européia adverte que a falta de água vai acirrar a corrida de imigrantes para o continente europeu. A escassez hídrica, segundo previsões, deverá fazer perto de 100 milhões de refugiados ambientais no planeta nos próximos 20 anos.

MÁ DISTRIBUIÇÃO
Tudo isso acontece dentro de um planeta com muita água, mas pouco disponível para o consumo. Dois terços da Terra são cobertos por água, mas 97,5% desse volume é salgado. Dos 2,5% da água que é doce, quase dois terços estão congelados nas calotas polares. A maior parte do que sobra se esconde no subsolo e não tem acesso fácil. O que está pronto para uso humano fica nos rios e lagos, que significa 0,4% de toda a água do planeta. Mas nem essa porção está totalmente disponível. Para que não se esgotem os recursos, é preciso usar no máximo a mesma quantidade de água renovada pelas chuvas, dentro de um ciclo natural do qual participam os oceanos, a atmosfera, as florestas e as demais coberturas vegetais do planeta.
A conta limita a 0,002% a água utilizável da Terra. Precisamos de metade desse estoque. Se o padrão atual de consumo se mantiver, em 30 anos as necessidades humanas vão empatar com a capacidade da natureza de repor a água. Depois disso, ou racionamos o uso das torneiras ou vamos secar rios e lagos até exaurir totalmente as fontes. A ameaça é real, porque a população global não pára de crescer e precisará de mais água para se manter.
Recentes relatórios internacionais afirmam que a falta de alimentos já é uma realidade global. No futuro, a situação poderá ser ainda mais crítica, se não houver água. A escassez coloca em risco as metas da Declaração do Milênio, assinada em 2000,sob a coordenação da ONU, para reduzir a pobreza, a fome e a mortalidade infantile no mundo até 2015. Para nutrir a população mundial crescente, será necessário duplicar a atual produção de comida. Isso exigirá um aumento de pelo menos 14% na retirada de água para irrigar lavouras. Além do uso intensivo de água, há o risco de impactos negativos, como a ameaça de mais desmatamento, poluição por agrotóxicos e erosão dos solos.

CONFLITO ENTRE USOS
Atualmente, a agricultura é a atividade que mais consome recursos hídricos no planeta. Sozinha, representa 69% do consumo de toda a água doce. O aumento desse percentual pode provocar conflitos com os demais usuários. As indústrias utilizam 21% da água disponível na crosta terrestre e deverão usar mais para crescer e sustentar o desenvolvimento econômico. Os outros 10% vão para o consumo doméstico – e há necessidade de maior volume para abastecer a população não atendida.
A atual crise mundial dos recursos hídricos possui várias causas. Uma das principais, segundo a ONU, são as dificuldades de governo – ou seja, a incapacidade dos países de gerir a água de maneira eqüitativa, por fatores como a corrupção, a falta de financiamento para o setor e o despreparo técnico. O assunto preocupa: até 2025, o consumo total de água para os diversos fins aumentará 50% nos países em desenvolvimento e 18% no mundo desenvolvido. Esse crescimento poderá ser intolerável em várias partes do planeta, diz o relatório Global Environment Outlook, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 20 anos após a publicação do famoso documento Nosso Futuro Comum. Elaborado pela Comissão Brundtland, em 1987, foi o primeiro que alertou o mundo sobre a necessidade de aliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental.
A última edição do relatório diz que é necessário mudar padrões de produção e consumo. Para produzir um carro, gastam-se 400 mil litros de água. Um quilo de carne bovina consome 15 mil litros. Os especialistas dizem que também é preciso reduzir o consumo e melhorar a distribuição, tornando mais justo o acesso às fontes hídricas. O ser humano necessita de, no mínimo, 50 litros de água por dia para atender suas necessidades. Enquanto um norte-americano gasta, em média, 600 litros diariamente, um africano não tem mais de 20 litros para usar no mesmo período. Além do consumo exagerado, há desperdício. Nos plantios, dois quintos da água são perdidos com sistemas de irrigação ineficientes e, nas residências, um terço do consumo atual poderia ser economizado com medidas simples como não deixar a torneira pingando. No caso das indústrias, aplicando-se novas tecnologias, é possível reduzir em até 90% o consumo de água sem prejudicar a produção.
DESASTRE DA AÇÃO HUMANA
A desigualdade chama atenção. Existem muitas reservas de água em regiões desabitadas e poucas nas mais populosas, nas quais os impactos causados pela ação humana pioram o problema. Barrar os rios para gerar energia ou acumular água para abastecimento é uma dessas causas. Calcula-se que 60% dos 227 maiores rios do mundo sejam bloqueados por barragens ou desviados por canais, com impactos para os ecossistemas, para a pesca e para a população. Essas obras reduzem o fluxo natural de sedimentos carregados para os oceanos, causando salinização do solo, inundações e outros estragos nas zonas costeiras. Há mais de 45 mil grandes barragens, em 140 países. Só a China, para sustentar a economia em franca expansão, tem atualmente 105 obras dessa envergadura sendo planejadas ou em execução. As barragens, somadas à poluição dos rios e lagos, colocam mais de 3 mil espécies na lista das ameaçadas de extinção, segundo a organização internacional The World Conservation Union (IUNC).
A escassez vai além da pouca quantidade – é também uma questão de má qualidade. A poluição por agrotóxicos das plantações, substâncias químicas das indústrias e esgoto doméstico das cidades faz com que se busque água cada vez mais longe das cidades, a um custo maior. Saudáveis, só os rios distantes dos grandes centros urbanos, como o Amazonas, na América do Sul, e o Congo, na África, citados pela ONU como os menos problemáticos. Entre os mais poluídos estão o rio Amarelo, na China, e o Volga, na Rússia, onde a água potável se restringe a apenas 3% de sua bacia hidrográfica. No rio Colorado, nos Estados Unidos, a poluição transformou florestas em pântanos insalubres.

SANEAMENTO URGENTE
Uma das consequências é o aumento das doenças associadas à falta de água e à poluição dos mananciais, a maior causa de mortes no mundo. Cerca de 10 milhões de crianças morrem por ano acometidas de diarreia e outros males provocados pela água contaminada. Mais da metade das internações hospitalares no planeta resultam desses problemas, a um custo que supera 12 bilhões de dólares por ano. A urbanização contribui para agravar o quadro. Atualmente, metade da população mundial vive em cidades, sem os serviços adequados de saneamento. No globo, uma em cada cinco pessoas não tem acesso à água nem a esgoto tratado. Para reduzir esse déficit, a ONU escolheu 2008 como o Ano Internacional do Saneamento Básico, para conscientizar os países a reduzir pela metade a população não atendida por esses serviços, até 2015. Para isso, é necessário investir nesse período 10 bilhões de dólares por ano – menos de 1% do total gasto em programas militares no mundo.
Hoje, nos países em desenvolvimento, 90% do esgoto é devolvido à natureza sem nenhum tratamento. Como 1 litro de sujeira contamina 10 litros de água, é possível imaginar o tamanho do estrago e seus reflexos. A poluição atinge, também, os oceanos, muitas vezes levada pelos rios que neles deságuam. As indústrias lançam no ambiente 500 toneladas por ano de produtos tóxicos. Diariamente, são despejados 2 bilhões de toneladas e lixo. Exemplo dessa contaminação é a “lixeira” do tamanho do estado norteamericano do Texas, no Pacífico Norte, onde pesquisadores encontraram quase 1 milhão de pedaços de plásticos por quilômetro quadrado, com efeitos nocivos à biodiversidade marinha.
Resultados da ação do homem na atmosfera, como a emissão de gases de efeito estufa, podem agravar a escassez de água. O aquecimento global aumenta a temperatura dos mares e altera as correntes oceânicas que regulam o clima, promovendo mudanças no padrão das chuvas, que recompõem naturalmente os mananciais.Pesquisadores do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) advertem que o mundo deve se preparar para os efeitos das mudanças climáticas na provisão de água no planeta.
 

EFICIÊNCIA E ECONOMIA
Segundo especialistas, dar maior valor à água é um caminho para reduzir desigualdades e conflitos. Os serviços de abastecimento precisam funcionar com eficiência, ser economicamente sustentáveis e ter preços justos. Atualmente, são os mais pobres que arcam com o maior custo da água. Em Dar es Salaam, na Tanzânia, os favelados pagam 8 dólares por mil litros de água comprada em latas, enquanto os mais ricos da cidade gastam 34 centavos pela mesma quantidade de água que chega às torneiras. No Reino Unido, esse mesmo volume custa 1,62 dólar e, nos Estados Unidos, 68 centavos. Países europeus aumentam a conta de água para reduzir o consumo.
O mercado de água já é bilionário. Em 2000, o Banco Mundial previa que, em alguns anos, esse comércio mundial movimentaria 1 trilhão de dólares. Parte desse lucro é auferida pela água engarrafada. Em dez anos, o consumo desse produto aumentou 145% no planeta, porque o consumidor não confia na qualidade da água que chega às torneiras e aceita pagar até dez vezes mais caro pela segurança. Seguindo essa tendência, é crescente a exportação de água para países que necessitam dela para manter indústrias e cultivos agrícolas. Empresas também planejam ter lucros com o tratamento de esgoto. Atualmente, só 5% desse serviço é prestado por companhias particulares, mas vários países têm planos de privatizar o saneamento básico, como forma de expandi-lo por um custo menor para o estado. 

Fernando Lemos


Atraso: Despejo de esgoto em curso d’água: falta de tratamento reduz o acesso à água potável no Brasil


TOTAL DE ÁGUA NO PLANETA
Água salgada: 97%
Água doce: 2,5%

TOTAL DE ÁGUA DOCE
Subterrâneas: 30,1%
Geleiras: 68,7%
Permafrost (camada de subsolo na tundra congelada): 0,8%
Água atmosférica e de superfície: 0,4%

ÁGUA ATOMOSFÉRICA E DE SUPERFÍCIE
Umidade do solo: 12,2 %
Atmosfera: 9,5%
Pântanos e áreas alagadas: 8,5%
Rios: 1,6%
Biotas: 0,8%
Lagos de água doce: 67,4%


GOTA D'ÁGUA NO OCEANO

A água atmosférica e de superfície – o grosso
do que é usado pelo homem – é apenas uma
parte em 10 mil de toda a água do planeta.
É isso o que mostra este infográfico. Para
entendê-lo, considere que nesta página só
estamos vendo uma pequena parte do círculo
azul-escuro que representa a água salgada dos
oceanos: trata-se de uma circunferência com
2,9 metros de diâmetro.
No lado oposto, os rios estão representados por
uma parte tão pequena do círculo de água
atmosférica e de superfície que mal dá para ver
sua cor laranja. Comparando as duas áreas, você
terá uma noção da diferença de volume entre os
totais globais dessas massas líquidas


RESUMO – ÁGUA

Conflitos
Há risco de a disputa pela água escassa se transformar em guerras, de acordo com a ONU . A maior preocupação é com os países que compartilham o uso de rios e lagos. Até 2030, a água será o grande motivo de guerra na África. As principais causas dos conflitos são a incapacidade dos países de gerenciar a água, a falta de financiamento, o despreparo técnico e a destruição dos mananciais pelo uso irracional e pela poluição.

Distribuição
Apenas 0,002% da água do planeta está disponível para consumo. Para não esgotá-la, é preciso usar no máximo a mesma quantidade de água renovada pelas chuvas. Há regiões onde esse limite já se encontra ultrapassado e as fontes estão secando.

Agricultura
O cultivo de alimentos consome 70% da água do planeta. Para nutrir a população mundial crescente e vencer a atual crise de alimentos, sera necessário retirar mais água da natureza com o objetivo de irrigar as plantações. Esse aumento poderá entrar em conflito com o uso pelas indústrias e pelas residências. Calcula-se que o consumo total de água crescerá 50% nos países em desenvolvimento até 2025.

Uso racional
A tarefa de gerenciar os recursos hídricos exige promover o uso racional e reduzir o desperdício (boa parte da água é desperdiçada nos sistemas de irrigação, nos canos até chegar às residências e também nas torneiras). É preciso, ainda, evitar impactos causados pelo homem, como a poluição por resíduos industriais e esgotos, que pioram a qualidade e reduzem a quantidade de água para o consumo.

Brasil
O Brasil é o país mais rico em água, mas sua distribuição é desigual. Há fartura em regiões pouco habitadas, como a Amazônia, e escassez nas áreas mais populosas e nos lugares que sofrem com a seca. Os comitês de bacia, criados a partir da Lei das Águas, multiplicam-se no país para incentivar o uso equilibrado dos recursos hídricos.
 

 


Quantos litros de água potável restam na Terra?
Quanto tempo a água que temos, hoje, vai durar?
Quanta água usamos para produzir alimentos? E na indústria?
Onde falta água e onde ela é abundante no planeta? 
Veja as respostas através dos infográficos criados pela equipe da revista Mundo Estranho
                                                                   Por Pedro Burgos
 
Onde a água é usada
Quanto se usa para produzir os seguintes alimentos? E nas indústrias? 
Falta ou abundância?
Percentual da população mundial por disponibilidade de água. 



Quanto custa o litro de água
Percentual do salário gasto com água, dados em 2003 



Além da fronteira
Percentual de água renovável vinda de fora do país Fontes: Aquastats (Relatório da FAO-ONU de 2003); World Development Indicators (Relatório do Banco Mundial de 2003); Atlas da Água (2005), de Robin Clarke e Jannet King

 
Fonte: Nova Escola



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