A oferta de água
Objetivo(s)
Identificar
a distribuição de água no planeta e os fatores naturais e sociais que
interferem na sua abundância e escassez, tendo em vista o consumo humano.
Reconhecer
e analisar práticas e situações que comprometem a disponibilidade de água no
Brasil e no mundo e examinar propostas para o uso sustentável do recurso.
Conteúdo(s)
Água -
distribuição e disponibilidade na superfície terrestre
A
situação do Brasil
Usos
da água
Sustentabilidade
do recurso
Ano(s) :
1º ao 5º
Tempo
estimado : Quatro aulas
Material
necessário
Planeta
Sustentável
Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
Este
é o segundo plano de aula de uma série de cinco propostas para trabalhar com a
questão hídrica no Ensino Fundamental. No primeiro plano, Caminhos das Águas,
foram apresentadas atividades sobre o percurso da água na natureza, observando
a distribuição dela no planeta, bem como as proporções desse recurso em rios,
geleiras, cumes de montanhas, solos, atmosfera e subsolo. Examinou-se o ciclo e
os usos da água.
Aqui, vamos verificar a distribuição e a disponibilidade de água própria para o consumo humano na superfície terrestre, analisando as causas naturais e sociais que afetam sua oferta - situações como consumo excessivo, poluição, desperdício e ausência ou precariedade dos serviços de saneamento básico.
Aqui, vamos verificar a distribuição e a disponibilidade de água própria para o consumo humano na superfície terrestre, analisando as causas naturais e sociais que afetam sua oferta - situações como consumo excessivo, poluição, desperdício e ausência ou precariedade dos serviços de saneamento básico.
A
escassez tem levado a disputas e conflitos pela posse e pelo uso da água em
diferentes regiões do globo, um quadro que tende a se agravar.
Como é a distribuição e a disponibilidade da água no mundo? Quais as áreas que convivem com abundância ou escassez dela? No Brasil, como é a situação? E na cidade em que vivem os alunos, há oferta adequada de água? Qual é a situação dos mananciais e cursos d¿água que abastecem a localidade? Essas e outras questões podem servir de mote ao desenvolvimento dos assuntos relativos a este plano e ser o ponto de partida para a organização de projetos coletivos de trabalho, sequências didáticas e outras atividades.
Para os estudantes de 1º ao 5º ano, proponha rodas de conversa sobre situações em que tenha ocorrido falta ou racionamento de água na rua, no bairro ou no município. Peça que descrevam essas situações e apontem quais os procedimentos adotados em cada família. A seguir, eles podem relatar o que sabem sobre a disponibilidade de água na localidade (regime de chuvas, volume de água de rios, lagos e áreas de mananciais etc.). Aproveite as indicações ao final deste plano e ofereça novas informações à turma.
Depois, a conversa pode tomar o rumo das práticas que os alunos consideram inadequadas e que comprometam a oferta de água, como o despejo de esgotos domésticos e resíduos industriais em rios, córregos ou trechos de praia (se houver). Para a aula seguinte, sugira que conversem a respeito desses pontos com familiares e membros da comunidade, em especial os mais idosos ou aqueles que vivem há mais tempo no município, trazendo os resultados para uma nova roda de conversa.
Como é a distribuição e a disponibilidade da água no mundo? Quais as áreas que convivem com abundância ou escassez dela? No Brasil, como é a situação? E na cidade em que vivem os alunos, há oferta adequada de água? Qual é a situação dos mananciais e cursos d¿água que abastecem a localidade? Essas e outras questões podem servir de mote ao desenvolvimento dos assuntos relativos a este plano e ser o ponto de partida para a organização de projetos coletivos de trabalho, sequências didáticas e outras atividades.
Para os estudantes de 1º ao 5º ano, proponha rodas de conversa sobre situações em que tenha ocorrido falta ou racionamento de água na rua, no bairro ou no município. Peça que descrevam essas situações e apontem quais os procedimentos adotados em cada família. A seguir, eles podem relatar o que sabem sobre a disponibilidade de água na localidade (regime de chuvas, volume de água de rios, lagos e áreas de mananciais etc.). Aproveite as indicações ao final deste plano e ofereça novas informações à turma.
Depois, a conversa pode tomar o rumo das práticas que os alunos consideram inadequadas e que comprometam a oferta de água, como o despejo de esgotos domésticos e resíduos industriais em rios, córregos ou trechos de praia (se houver). Para a aula seguinte, sugira que conversem a respeito desses pontos com familiares e membros da comunidade, em especial os mais idosos ou aqueles que vivem há mais tempo no município, trazendo os resultados para uma nova roda de conversa.
2ª etapa
Organize
uma nova roda de conversa para compartilhar os resultados das conversas dos
alunos com familiares ou membros da comunidade sobre a oferta e o uso da água
na localidade. Em seguida, proponha a eles que representem as situações
apontadas por meio de desenhos ou mosaicos de figuras (fotos, charges e
ilustrações). Reserve tempo para esse trabalho, que deve ser feito,
preferencialmente, em pequenos grupos. Providencie os materiais e recursos
necessários.
Proponha a seguir um novo exercício: como seria uma semana na vida de cada um sem água para consumo? Como obter o necessário? Alguém imagina o que faziam os povos da antiguidade, que ainda não tinham recursos à mão para garantir a qualidade da água? Faça a leitura do texto da coletânea Como Fazíamos Sem... Água Limpa? (ver indicação no final deste plano). Se necessário, colete outros textos apropriados para a faixa etária. Ofereça algumas informações a mais: na Grécia antiga, utilizava-se a água da chuva para beber, mas os gregos já sabiam da necessidade de fervê-la e filtrá-la (com panos) antes do consumo. A busca por água levou muitas culturas a ocupar preferencialmente margens de rios, onde o abastecimento era mais garantido. Isso, no entanto, acarretava a construção de diques contra inundações e sistemas de bombeamento para evitar enchentes.
Proponha a seguir um novo exercício: como seria uma semana na vida de cada um sem água para consumo? Como obter o necessário? Alguém imagina o que faziam os povos da antiguidade, que ainda não tinham recursos à mão para garantir a qualidade da água? Faça a leitura do texto da coletânea Como Fazíamos Sem... Água Limpa? (ver indicação no final deste plano). Se necessário, colete outros textos apropriados para a faixa etária. Ofereça algumas informações a mais: na Grécia antiga, utilizava-se a água da chuva para beber, mas os gregos já sabiam da necessidade de fervê-la e filtrá-la (com panos) antes do consumo. A busca por água levou muitas culturas a ocupar preferencialmente margens de rios, onde o abastecimento era mais garantido. Isso, no entanto, acarretava a construção de diques contra inundações e sistemas de bombeamento para evitar enchentes.
3ª etapa
Convide
a garotada a montar painéis ou cartazes com desenhos, ilustrações e textos
sobre os usos da água, com base no que vem ocorrendo no próprio município. É
importante que apontem situações como a poluição e o comprometimento do mar, de
rios e córregos, caso isso ocorra, e indiquem a importância de economizar e
usar adequadamente a água, no caso de indivíduos, atividades econômicas e poder
público. Proponha a exposição de trabalhos em varais ou murais na escola.
Avaliação
Leve
em conta os objetivos estabelecidos no início das atividades. Observe e
registre a participação dos estudantes nas etapas individuais e coletivas do
trabalho. Para verificar o domínio progressivo dos conceitos, examine o
conjunto da produção de textos, painéis, desenhos e outros trabalhos
realizados. Reserve um tempo para que a moçada fale livremente sobre a
experiência e para avaliar eventuais dificuldades e ganhos de aprendizagem.
Quer saber mais?
Bibliografia
Ambiente Brasileiro: 500 Anos de Exploração dos Recursos Hídricos, Aldo Rebouças, em Patrimônio Ambiental Brasileiro, Wagner C. Ribeiro (org), Edusp, tel. (11) 3091-2911.
Atlas do Brasil: Disparidades e Dinâmicas do Território (ver em especial o Capítulo 3 - O Meio Ambiente e sua Gestão, que trata das águas no Brasil), Hervé Théry e Neli Mello, Edusp.
Como Fazíamos Sem...Água Limpa, Bárbara Soalheiro, Panda Books, tel. (11) 2628-1323.
Ambiente Brasileiro: 500 Anos de Exploração dos Recursos Hídricos, Aldo Rebouças, em Patrimônio Ambiental Brasileiro, Wagner C. Ribeiro (org), Edusp, tel. (11) 3091-2911.
Atlas do Brasil: Disparidades e Dinâmicas do Território (ver em especial o Capítulo 3 - O Meio Ambiente e sua Gestão, que trata das águas no Brasil), Hervé Théry e Neli Mello, Edusp.
Como Fazíamos Sem...Água Limpa, Bárbara Soalheiro, Panda Books, tel. (11) 2628-1323.
Internet
Comitês de bacias hidrográficas
Quais são os órgãos encarregados de fazer o gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil? Quais são suas principais atribuições? Quem participa deles? O que são e o que fazem os Comitês de Bacias Hidrográficas?
Relatório das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos
Informe com os principais pontos do relatório, indicando a questão da governança da água.
Comitês de bacias hidrográficas
Quais são os órgãos encarregados de fazer o gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil? Quais são suas principais atribuições? Quem participa deles? O que são e o que fazem os Comitês de Bacias Hidrográficas?
Relatório das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos
Informe com os principais pontos do relatório, indicando a questão da governança da água.
O
mar de Aral, entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, está morrendo.
Sergio
Adeodato
Ele
tinha uma área equivalente à dos estados do Rio de Janeiro e Alagoas juntos.
Por séculos, foi um oásis no meio do deserto. Mas agora o mar de Aral, entre o
Cazaquistão e o Uzbequistão, está morrendo. Simboliza o que poderá acontecer
com os outros mananciais do planeta se o ritmo do uso irracional continuar como
nos dias de hoje. Apesar do nome, o Aral é um grande lago que se tornou
salgado. Antes da década de 1960, tinha 62.000 km2 de extensão. Hoje, já perdeu
dois terços da sua área de superfície.
Em toda a bacia do Aral, existem mais de 5 mil lagos, a maior parte na região dos rios Amu Daria e Sir Daria. Sua morte foi prevista há quase 50 anos, quando o então governo soviético desviou dois rios que o alimentavam para irrigar plantios de algodão. Os agrotóxicos poluíram 15% das águas, também castigadas pelos efeitos das barragens de 45 usinas hidrelétricas. A floresta que cercava suas margens praticamente acabou. Cerca de 80% das espécies de animais desapareceram.
Com a erosão e a retirada exagerada de água, o Aral recebe anualmente 60 milhões de toneladas de sal carregadas pelos rios, matando peixes e, por conseqüência, a indústria pesqueira que sustentava a economia local. O sal e os pesticidas agrícolas se infiltraram no solo. Contaminaram lençóis freáticos, tornaram impossível a lavoura e elevaram a níveis epidêmicos doenças como o câncer. O Aral pode desaparecer se nada for feito para modernizar os sistemas de irrigação e adotar práticas ambientais menos agressivas.
Fonte:
Líquido precioso
A poluição e o mau uso de mananciais ampliam a escassez
hídrica e fazem do acesso à água potável um foco de tensão em diversas partes
do globo
Por
Sérgio Adeodato - Guia do Estudante - Atualidades e Vestibular 2009
O corpo
humano é composto de mais de dois terços de água. Para manter a saúde,
precisamos bebê-la várias vezes ao dia. É condição básica para a existência da
vida; faz parte da rotina de todos. Com ela, escovamos os dentes, tomamos
banho, lavamos roupa e louça e ainda geramos energia elétrica, produzimos
alimentos, movemos indústrias, transportamos mercadorias e aproveitamos o
lazer. O planeta, fornecedor dessa fonte vital, também precisa dela para
manter-se saudável – e garantir o equilíbrio do clima e dos ambientes naturais.
Não é por acaso que a água simboliza a vida. O problema é que se torna um bem
cada vez mais escasso. Mais que isso. Disputada como um tesouro raro e
precioso, ela pode se transformar em motivo de violência e guerra, segundo a
Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, calcula-se que 2,2 bilhões de
habitantes, quase um terço da humanidade, sofre com a falta de água potável. Em
20 anos, serão 3,9 bilhões com sede.
Estima-se
que a principal disputa no planeta nos próximos 50 anos não será por petróleo,
ouro ou carvão – mas por água. O alerta consta do relatório divulgado pela ONU
no Dia Mundial da Água. Dentro de um cenário de crise, aumenta a briga pela
posse e pelo uso desse recurso. A questão preocupa, porque a desigualdade e a
escassez tendem a aumentar os conflitos. Além de atritos entre grupos rivais em
um mesmo país, há embates diplomáticos entre nações e outras desavenças que
podem culminar nas próximas décadas em confrontos armados pelo controle de
mananciais. O relatório identifica 46 países nos quais há risco de essa crise
provocar brigas. O perigo é maior entre nações que vivem escassez e
compartilham o uso de rios e lagos. Existem no planeta263 bacias hidrográficas
transnacionais, abrangendo 145 países. Mais de 40%da população mundial habita
essas áreas, como o mar Cáspio e o mar de Aral, na Ásia; o lago Chade e o lago
Vitória, na África, e os Grandes Lagos da América do Norte.
Em
alguns casos, as fontes são disputadas litro a litro, como no Oriente Médio,
onde dominar a água é estopim de guerras desde a Antiguidade. Israelenses e
palestinos lideram as disputas. Sob o solo do deserto, estão os lençóis da
Cisjordânia. Até 1967, os palestinos usavam essa água à vontade, mas a ocupação
israelense, após a Guerra dos Seis Dias, acabou com isso. Os poços são
controlados por militares israelenses. E qualquer acordo de paz para a Faixa de
Gaza exigirá um capítulo especial para a água.
CRESCE A BRIGA
Israelenses
e palestinos, por sua vez, confrontam a Síria e a Jordânia pelo controle do
vale do rio Jordão, a principal fonte de água da região. Exaurido pela
mineração, pela irrigação e até pela manutenção de campos de golfe no deserto,
o Jordão está minguando. Apenas um terço do volume original chega ao mar Morto,
que pode sumir até 2050 e se resume a um lago sem vida, seis vezes mais salgado
que o oceano. Não muito longe dali, a Síria briga com a Turquia e o Iraque pelo
uso da bacia que envolve os rios Tigre e Eufrates. Dona das nascentes, a
Turquia represou o Eufrates para gerar energia e irrigar cultivos e diminuiu a
água que chega aos países vizinhos. O maior foco de conflito foi a represa de
Ataturk, construída pelos turcos na década de 1990, mas novos projetos colocam
em risco a paz. Na Ásia Central, a tensão também é crescente. O Tadjiquistão e
o Quirguistão controlam 90% das reservas da região. Mas o Uzbequistão é o maior
usuário e pede acesso facilitado.
Mais
de 400 tratados internacionais envolveram o uso compartilhado de recursos
hídricos desde 1820 – sem contar os acordos sobre navegação, pesca e demarcação
de fronteiras. Um dos exemplos acorreu na Ásia, depois que Bangladesh passou 20
anos de escassez porque a Índia construiu a enorme represa de Farakka no curso
do rio Ganges, para conseguir a maior quantidade de água antes do rio atingir o
território de Bangladesh. O conflito só cessou após aassinatura de um tratado
em 1996 para uso compartilhado da água. Mas o potencial de discórdia continua
latente no percurso do rio Ganges, que nasce no Himalaia, atravessa a Índia e
desemboca na baía de Bengala, em Bangladesh. Essa bacia reúne mais de 30 barragens
e desvios que reduzirama vazão do rio em 60% na estação seca, prejudicando os
bengaleses.
Há
também disputas na África, onde a ONU estima que o acesso às fontes hídricas
seja a causa número 1 de guerras até 2030. Na região do Nilo, nove países
dependem desse rio para abastecer a população. O Egito faz pressão econômica e
militar sobre a Etiópia e o Sudão, situados nas cabeceiras do rio, para que não
construam barragens e diminuam o volume de água no trecho egípcio. Em Darfur,
oeste do Sudão, a guerrilha é acusada de envenenar reservatórios para forçar a
população mulçumana a abandonar a região. Os conflitos têm o potencialde
expandir seus efeitos por outras regiões. A União Européia adverte que a falta
de água vai acirrar a corrida de imigrantes para o continente europeu. A
escassez hídrica, segundo previsões, deverá fazer perto de 100 milhões de
refugiados ambientais no planeta nos próximos 20 anos.
MÁ DISTRIBUIÇÃO
Tudo
isso acontece dentro de um planeta com muita água, mas pouco disponível para o
consumo. Dois terços da Terra são cobertos por água, mas 97,5% desse volume é
salgado. Dos 2,5% da água que é doce, quase dois terços estão congelados nas
calotas polares. A maior parte do que sobra se esconde no subsolo e não tem
acesso fácil. O que está pronto para uso humano fica nos rios e lagos, que
significa 0,4% de toda a água do planeta. Mas nem essa porção está totalmente
disponível. Para que não se esgotem os recursos, é preciso usar no máximo a
mesma quantidade de água renovada pelas chuvas, dentro de um ciclo natural do
qual participam os oceanos, a atmosfera, as florestas e as demais coberturas
vegetais do planeta.
A
conta limita a 0,002% a água utilizável da Terra. Precisamos de metade desse
estoque. Se o padrão atual de consumo se mantiver, em 30 anos as necessidades
humanas vão empatar com a capacidade da natureza de repor a água. Depois disso,
ou racionamos o uso das torneiras ou vamos secar rios e lagos até exaurir
totalmente as fontes. A ameaça é real, porque a população global não pára de crescer
e precisará de mais água para se manter.
Recentes
relatórios internacionais afirmam que a falta de alimentos já é uma realidade
global. No futuro, a situação poderá ser ainda mais crítica, se não houver
água. A escassez coloca em risco as metas da Declaração do Milênio, assinada em
2000,sob a coordenação da ONU, para reduzir a pobreza, a fome e a mortalidade
infantile no mundo até 2015. Para nutrir a população mundial crescente, será
necessário duplicar a atual produção de comida. Isso exigirá um aumento de pelo
menos 14% na retirada de água para irrigar lavouras. Além do uso intensivo de
água, há o risco de impactos negativos, como a ameaça de mais desmatamento,
poluição por agrotóxicos e erosão dos solos.
CONFLITO ENTRE USOS
Atualmente,
a agricultura é a atividade que mais consome recursos hídricos no planeta.
Sozinha, representa 69% do consumo de toda a água doce. O aumento desse
percentual pode provocar conflitos com os demais usuários. As indústrias
utilizam 21% da água disponível na crosta terrestre e deverão usar mais para
crescer e sustentar o desenvolvimento econômico. Os outros 10% vão para o
consumo doméstico – e há necessidade de maior volume para abastecer a população
não atendida.
A
atual crise mundial dos recursos hídricos possui várias causas. Uma das
principais, segundo a ONU, são as dificuldades de governo – ou seja, a
incapacidade dos países de gerir a água de maneira eqüitativa, por fatores como
a corrupção, a falta de financiamento para o setor e o despreparo técnico. O
assunto preocupa: até 2025, o consumo total de água para os diversos fins
aumentará 50% nos países em desenvolvimento e 18% no mundo desenvolvido. Esse
crescimento poderá ser intolerável em várias partes do planeta, diz o relatório
Global Environment Outlook, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente, 20 anos após a publicação do famoso documento Nosso Futuro
Comum. Elaborado pela Comissão Brundtland, em 1987, foi o primeiro que alertou
o mundo sobre a necessidade de aliar desenvolvimento econômico e preservação
ambiental.
A
última edição do relatório diz que é necessário mudar padrões de produção e
consumo. Para produzir um carro, gastam-se 400 mil litros de água. Um quilo de
carne bovina consome 15 mil litros. Os especialistas dizem que também é preciso
reduzir o consumo e melhorar a distribuição, tornando mais justo o acesso às
fontes hídricas. O ser humano necessita de, no mínimo, 50 litros de água por
dia para atender suas necessidades. Enquanto um norte-americano gasta, em
média, 600 litros diariamente, um africano não tem mais de 20 litros para usar
no mesmo período. Além do consumo exagerado, há desperdício. Nos plantios, dois
quintos da água são perdidos com sistemas de irrigação ineficientes e, nas
residências, um terço do consumo atual poderia ser economizado com medidas
simples como não deixar a torneira pingando. No caso das indústrias,
aplicando-se novas tecnologias, é possível reduzir em até 90% o consumo de água
sem prejudicar a produção.
DESASTRE DA AÇÃO HUMANA
A
desigualdade chama atenção. Existem muitas reservas de água em regiões
desabitadas e poucas nas mais populosas, nas quais os impactos causados pela
ação humana pioram o problema. Barrar os rios para gerar energia ou acumular
água para abastecimento é uma dessas causas. Calcula-se que 60% dos 227 maiores
rios do mundo sejam bloqueados por barragens ou desviados por canais, com
impactos para os ecossistemas, para a pesca e para a população. Essas obras
reduzem o fluxo natural de sedimentos carregados para os oceanos, causando
salinização do solo, inundações e outros estragos nas zonas costeiras. Há mais
de 45 mil grandes barragens, em 140 países. Só a China, para sustentar a
economia em franca expansão, tem atualmente 105 obras dessa envergadura sendo
planejadas ou em execução. As barragens, somadas à poluição dos rios e lagos,
colocam mais de 3 mil espécies na lista das ameaçadas de extinção, segundo a
organização internacional The World Conservation Union (IUNC).
A
escassez vai além da pouca quantidade – é também uma questão de má qualidade. A
poluição por agrotóxicos das plantações, substâncias químicas das indústrias e
esgoto doméstico das cidades faz com que se busque água cada vez mais longe das
cidades, a um custo maior. Saudáveis, só os rios distantes dos grandes centros
urbanos, como o Amazonas, na América do Sul, e o Congo, na África, citados pela
ONU como os menos problemáticos. Entre os mais poluídos estão o rio Amarelo, na
China, e o Volga, na Rússia, onde a água potável se restringe a apenas 3% de
sua bacia hidrográfica. No rio Colorado, nos Estados Unidos, a poluição
transformou florestas em pântanos insalubres.
SANEAMENTO URGENTE
Uma
das consequências é o aumento das doenças associadas à falta de água e à
poluição dos mananciais, a maior causa de mortes no mundo. Cerca de 10 milhões
de crianças morrem por ano acometidas de diarreia e outros males provocados
pela água contaminada. Mais da metade das internações hospitalares no planeta
resultam desses problemas, a um custo que supera 12 bilhões de dólares por ano.
A urbanização contribui para agravar o quadro. Atualmente, metade da população
mundial vive em cidades, sem os serviços adequados de saneamento. No globo, uma
em cada cinco pessoas não tem acesso à água nem a esgoto tratado. Para reduzir
esse déficit, a ONU escolheu 2008 como o Ano Internacional do Saneamento
Básico, para conscientizar os países a reduzir pela metade a população não
atendida por esses serviços, até 2015. Para isso, é necessário investir nesse
período 10 bilhões de dólares por ano – menos de 1% do total gasto em programas
militares no mundo.
Hoje,
nos países em desenvolvimento, 90% do esgoto é devolvido à natureza sem nenhum
tratamento. Como 1 litro de sujeira contamina 10 litros de água, é possível
imaginar o tamanho do estrago e seus reflexos. A poluição atinge, também, os
oceanos, muitas vezes levada pelos rios que neles deságuam. As indústrias
lançam no ambiente 500 toneladas por ano de produtos tóxicos. Diariamente, são
despejados 2 bilhões de toneladas e lixo. Exemplo dessa contaminação é a
“lixeira” do tamanho do estado norteamericano do Texas, no Pacífico Norte, onde
pesquisadores encontraram quase 1 milhão de pedaços de plásticos por quilômetro
quadrado, com efeitos nocivos à biodiversidade marinha.
Resultados
da ação do homem na atmosfera, como a emissão de gases de efeito estufa, podem
agravar a escassez de água. O aquecimento global aumenta a temperatura dos
mares e altera as correntes oceânicas que regulam o clima, promovendo mudanças
no padrão das chuvas, que recompõem naturalmente os mananciais.Pesquisadores do
Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) advertem que o mundo
deve se preparar para os efeitos das mudanças climáticas na provisão de água no
planeta.
EFICIÊNCIA E ECONOMIA
Segundo
especialistas, dar maior valor à água é um caminho para reduzir desigualdades e
conflitos. Os serviços de abastecimento precisam funcionar com eficiência, ser
economicamente sustentáveis e ter preços justos. Atualmente, são os mais pobres
que arcam com o maior custo da água. Em Dar es Salaam, na Tanzânia, os
favelados pagam 8 dólares por mil litros de água comprada em latas, enquanto os
mais ricos da cidade gastam 34 centavos pela mesma quantidade de água que chega
às torneiras. No Reino Unido, esse mesmo volume custa 1,62 dólar e, nos Estados
Unidos, 68 centavos. Países europeus aumentam a conta de água para reduzir o
consumo.
O
mercado de água já é bilionário. Em 2000, o Banco Mundial previa que, em alguns
anos, esse comércio mundial movimentaria 1 trilhão de dólares. Parte desse
lucro é auferida pela água engarrafada. Em dez anos, o consumo desse produto
aumentou 145% no planeta, porque o consumidor não confia na qualidade da água
que chega às torneiras e aceita pagar até dez vezes mais caro pela segurança.
Seguindo essa tendência, é crescente a exportação de água para países que
necessitam dela para manter indústrias e cultivos agrícolas. Empresas também
planejam ter lucros com o tratamento de esgoto. Atualmente, só 5% desse serviço
é prestado por companhias particulares, mas vários países têm planos de
privatizar o saneamento básico, como forma de expandi-lo por um custo menor
para o estado.
Fernando
Lemos
Atraso:
Despejo de esgoto em curso d’água: falta de tratamento reduz o acesso à água
potável no Brasil
TOTAL DE ÁGUA NO PLANETA
Água salgada: 97%
Água doce: 2,5%
TOTAL DE ÁGUA DOCE
Subterrâneas: 30,1%
Geleiras: 68,7%
Permafrost (camada de subsolo na tundra congelada): 0,8%
Água atmosférica e de superfície: 0,4%
ÁGUA ATOMOSFÉRICA E DE SUPERFÍCIE
Umidade do solo: 12,2 %
Atmosfera: 9,5%
Pântanos e áreas alagadas: 8,5%
Rios: 1,6%
Biotas: 0,8%
Lagos de água doce: 67,4%
GOTA D'ÁGUA NO OCEANO
A água atmosférica e de superfície – o grosso
do que é usado pelo homem – é apenas uma
parte em 10 mil de toda a água do planeta.
É isso o que mostra este infográfico. Para
entendê-lo, considere que nesta página só
estamos vendo uma pequena parte do círculo
azul-escuro que representa a água salgada dos
oceanos: trata-se de uma circunferência com
2,9 metros de diâmetro.
No lado oposto, os rios estão representados por
uma parte tão pequena do círculo de água
atmosférica e de superfície que mal dá para ver
sua cor laranja. Comparando as duas áreas, você
terá uma noção da diferença de volume entre os
totais globais dessas massas líquidas
A água atmosférica e de superfície – o grosso
do que é usado pelo homem – é apenas uma
parte em 10 mil de toda a água do planeta.
É isso o que mostra este infográfico. Para
entendê-lo, considere que nesta página só
estamos vendo uma pequena parte do círculo
azul-escuro que representa a água salgada dos
oceanos: trata-se de uma circunferência com
2,9 metros de diâmetro.
No lado oposto, os rios estão representados por
uma parte tão pequena do círculo de água
atmosférica e de superfície que mal dá para ver
sua cor laranja. Comparando as duas áreas, você
terá uma noção da diferença de volume entre os
totais globais dessas massas líquidas
RESUMO – ÁGUA
Conflitos
Há risco de a disputa pela água escassa se transformar em guerras, de acordo com a ONU . A maior preocupação é com os países que compartilham o uso de rios e lagos. Até 2030, a água será o grande motivo de guerra na África. As principais causas dos conflitos são a incapacidade dos países de gerenciar a água, a falta de financiamento, o despreparo técnico e a destruição dos mananciais pelo uso irracional e pela poluição.
Distribuição
Apenas 0,002% da água do planeta está disponível para consumo. Para não esgotá-la, é preciso usar no máximo a mesma quantidade de água renovada pelas chuvas. Há regiões onde esse limite já se encontra ultrapassado e as fontes estão secando.
Agricultura
O cultivo de alimentos consome 70% da água do planeta. Para nutrir a população mundial crescente e vencer a atual crise de alimentos, sera necessário retirar mais água da natureza com o objetivo de irrigar as plantações. Esse aumento poderá entrar em conflito com o uso pelas indústrias e pelas residências. Calcula-se que o consumo total de água crescerá 50% nos países em desenvolvimento até 2025.
Uso racional
A tarefa de gerenciar os recursos hídricos exige promover o uso racional e reduzir o desperdício (boa parte da água é desperdiçada nos sistemas de irrigação, nos canos até chegar às residências e também nas torneiras). É preciso, ainda, evitar impactos causados pelo homem, como a poluição por resíduos industriais e esgotos, que pioram a qualidade e reduzem a quantidade de água para o consumo.
Brasil
O Brasil é o país mais rico em água, mas sua distribuição é desigual. Há fartura em regiões pouco habitadas, como a Amazônia, e escassez nas áreas mais populosas e nos lugares que sofrem com a seca. Os comitês de bacia, criados a partir da Lei das Águas, multiplicam-se no país para incentivar o uso equilibrado dos recursos hídricos.
Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/conteudo_345575.shtml
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