“Um dia a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os
mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios e nos
oceanos”. (Profecia de “Olhos de Fogo”, velha índia da nação Cree, há 200 anos)
Vou logo avisando que a conversa de hoje vai eivada de inevitáveis termos
técnicos. Não pude evitar.
É preciso ter muito claro o papel da Amazônia no equilíbrio da biosfera. A maior
floresta tropical do Planeta, a Amazônia, corresponde a 2/5 da América do Sul e
a metade do Brasil. Então, a floresta amazônica é o “pulmão do planeta”. Certo?
Errado! Há muito se sabe que a floresta amazônica se encontra muito próxima de
seu ponto de compensação. Ou seja, sua taxa de fotossíntese é quase equivalente
à sua taxa de respiração.
É verdade que a floresta produz uma imensa quantidade de oxigênio mediante a
fotossíntese durante o dia. Porém, as plantas superiores e outros organismos
associados vivendo nessa mesma floresta respiram 24 horas por dia, ou seja, o
oxigênio que a floresta produz acaba sendo utilizado na respiração dela mesma.
Ou seja, a nossa majestosa floresta não é, portanto, o “pulmão do mundo”.
Felizmente, o planeta dispõe de outro mecanismo para absorver o CO2 em excesso.
Felizmente, existem os fitoplânctons – nos mares e oceanos (dois terços do
Planeta é ocupado por mares e oceanos) e funcionam como um reservatório,
sugador de CO2 da atmosfera e produtor de oxigênio.
Fitoplânctons são minúsculas plantas marinhas que florescem sob águas frias e
ricas em nutrientes. A sua notável coloração esverdeada é causada pela reflexão
da clorofila produzida pelos fitoplânctons, que assim como as plantas
terrestres, usam o processo de fotossíntese para criar carboidratos a partir de
dióxido de carbono e água, ou seja, fixar em sua estrutura o carbono e devolver
o oxigênio ao meio ambiente.
A quantidade de oxigênio produzida pelos fitoplânctons para atmosfera é
superior a do oxigênio gerado pelas florestas, porque a massa verde dos
fitoplânctons é maior que a biomassa florestal. Os fitoplânctons estão
disseminados em todo volume das águas dos mares e oceanos enquanto as florestas
ocupam apenas alguns espaços sobre a crosta terrestre. Espaços cada vez
menores, pela ganância de alguns.
Caro leitor, renovo minhas escusas pelos termos técnicos, mas está acontecendo
o seguinte:
Os mares e oceanos, devido ao aquecimento global, estão tendo as camadas
superficiais aquecidas e este aumento de temperatura superficial aumenta o
volume das moléculas d’água com a conseqüente diminuição da densidade das
mesmas. Por isso, apesar do movimento natural das ondas e das marés, não há uma
boa renovação, uma mistura das águas, a superfície não se renova de forma suficiente
para arrastar as partículas salinas nutritivas do fundo dos mares e oceanos
para a superfície até os fitoplânctons e estes, devido a esse fenômeno, começam
a se extinguir por falta de nutrientes.
Outra condição importante é a necessidade de luminosidade para que haja a
fotossíntese na biomassa formadora dos fitoplânctons, estes só sobrevivem aonde
chega a luz solar.
A poluição reduz a transparência das águas, as águas ficam translúcidas,
impedem a passagem parcial ou total dos raios solares. Sem os raios solares,
não há fotossíntese. Sem fotossíntese, não há produção de oxigênio e fixação do
carbono.
Se os fitoplânctons morrem, liberam por ação anaeróbia, o metano; o qual é
vinte vezes mais poluente que o gás carbônico. O metano é um gás leve, procura
as camadas mais altas da atmosfera chegando até as camadas de ozônio com o qual
reage – quanto maior a quantidade de metano, menor e mais rarefeita será a
camada de ozônio, nosso escudo protetor ante os raios ultravioleta. Uma
tragédia anunciada.
Onde está a saída?
A saída está em poluir menos – não jogar lixo nas águas – e fertilizar, em
grande escala, os mares, oceanos e as águas internas, para aumentar a
reprodução primária dessas microalgas (fitoplânctons).
Para que a profecia de Olhos de Fogo não se concretize, é indispensável
proteger o ambiente marinho e cuidadosamente gerir seus recursos. Mares e
oceanos seguros, saudáveis e produtivos são parte integrante da segurança
econômica e do desenvolvimento sustentável.
Resumo da ópera: as atividades humanas estão tendo um efeito terrível e suicida
sobre os oceanos e os mares do mundo.Água limpa é vida. Faça sua parte!
“Um dia a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os
mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios e nos
oceanos”. (Profecia de “Olhos de Fogo”, velha índia da nação Cree, há 200 anos)
A conversa de hoje está cheia de inevitáveis termos técnicos. Não pude evitar.
É preciso ter muito claro o papel da Amazônia no equilíbrio da biosfera. A
maior floresta tropical do Planeta, a Amazônia, corresponde a 2/5 da América do
Sul e a metade do Brasil. Então, a floresta amazônica é o “pulmão do planeta”.
Certo?
Errado! Há muito se sabe que a floresta amazônica se encontra muito próxima de
seu ponto de compensação. Ou seja, sua taxa de fotossíntese é quase equivalente
à sua taxa de respiração.
É verdade que a floresta produz uma imensa quantidade de oxigênio mediante a
fotossíntese durante o dia. Porém, as plantas superiores e outros organismos
associados vivendo nessa mesma floresta respiram 24 horas por dia, ou seja, o
oxigênio que a floresta produz acaba sendo utilizado na respiração dela mesma.
Ou seja, a nossa majestosa floresta não é, portanto, o “pulmão do mundo”.
Felizmente, o planeta dispõe de outro mecanismo para absorver o CO2 em excesso.
Felizmente, existem os fitoplânctons – nos mares e oceanos (dois terços do
nosso Planeta é ocupado por rios, lagos, mares e oceanos) e funcionam como um
reservatório, sugador de CO2 da atmosfera e produtor de oxigênio.
Fitoplânctons são minúsculas plantas marinhas que florescem
sob água fria e rica em nutrientes. A sua notável coloração esverdeada é
causada pela reflexão da clorofila produzida pelos fitoplânctons, que, assim
como as plantas terrestres, usam o processo de fotossíntese para criar
carboidratos a partir de dióxido de carbono e água, ou seja, fixar em sua
estrutura o carbono e devolver o oxigênio ao meio ambiente.
A quantidade de oxigênio produzida pelos fitoplânctons para atmosfera é
superior a do oxigênio gerado pelas florestas, porque a massa verde dos
fitoplânctons é maior que a biomassa florestal. Os fitoplânctons estão
disseminados em todo volume das águas dos mares e oceanos enquanto as florestas
ocupam apenas alguns espaços sobre a crosta terrestre. Espaços cada vez
menores, pela ganância de alguns.
Caro leitor, acontece mais ou menos o seguinte:
Os mares e oceanos, devido ao aquecimento global, estão tendo as camadas
superficiais aquecidas e este aumento de temperatura superficial aumenta o
volume das moléculas d’água com a conseqüente diminuição da densidade das
mesmas. Por isso, apesar do movimento natural das ondas e das marés, não há uma
boa renovação, uma mistura das águas, a superfície não se renova de forma
suficiente para arrastar as partículas salinas nutritivas do fundo dos mares e
oceanos para a superfície até os fitoplânctons e estes, devido a esse fenômeno,
começam a se extinguir por falta de nutrientes.
Outra condição importante é a necessidade de luminosidade para que haja a
fotossíntese na biomassa formadora dos fitoplânctons, até porque estes só
sobrevivem aonde chega a luz solar.
A poluição reduz a transparência das águas, as águas ficam translúcidas,
impedem a passagem parcial ou total dos raios solares. Sem os raios solares,
não há fotossíntese. Sem fotossíntese, não há produção de oxigênio e fixação do
carbono.
Se os fitoplânctons morrem, liberam por ação anaeróbia, o metano; o qual é
vinte vezes mais poluente que o gás carbônico. O metano é um gás leve, procura
as camadas mais altas da atmosfera chegando até as camadas de ozônio com o qual
reage – quanto maior a quantidade de metano, menor e mais rarefeita será a
camada de ozônio, nosso escudo protetor ante os raios ultravioleta. Uma
tragédia anunciada!
Onde está a saída?
A saída está em poluir menos – não jogar lixo nas águas – e fertilizar, em
grande escala, os mares, oceanos e as águas internas, para aumentar a
reprodução primária dessas microalgas, os fitoplânctons.
Para que a profecia de Olhos de Fogo não se concretize, é indispensável
proteger o ambiente marinho e cuidadosamente gerir seus recursos. Mares e
oceanos seguros, saudáveis e produtivos são parte integrante da segurança
econômica e do desenvolvimento sustentável.
Resumo da ópera: por ignorância, as atividades humanas estão tendo um efeito
terrível e suicida sobre os oceanos e os mares do mundo.
---------------------------------
Começo logo com algumas informações altamente preocupantes.
Somos 7,2 bilhões de pessoas sobre a face da Terra, e a maioria de nós
desperdiça o precioso líquido, enquanto 1 bilhão de seres humanos sofre o
flagelo da sede. 1 bilhão!
De acordo com especialistas da ONU, se a curva de crescimento da população
mundial se mantiver, vamos chegar à marca de 15 bilhões de humanos antes da
metade deste século.
Por volta de 2025, 8 bilhões de habitantes deverão compartilhar a mesma quantidade
de água doce que existe atualmente. Estima-se que as reservas serão, em média,
de 4.800 m3 por ano e por habitante, contra 16.800 m3 em 1950.
A América do Sul dispõe da quarta parte da água disponível em todo o mundo,
embora ela abrigue apenas 6% da população. No extremo oposto, 60% dos
habitantes do planeta vivem na Ásia, que não dispõe mais do que um terço dos
recursos em água existentes. Acendeu a luz amarela.
As sociedades humanas precisam reformar rapidamente sua administração dos
recursos em água doce, sobre os quais pesam ameaças cada vez mais importantes.
Caso mudanças não sejam promovidas em tempo hábil, a segurança hídrica,
alimentícia e energética, em breve estará comprometida.
Em resumo, esta foi a preocupação dos organizadores do encontro de mais de 120
chefes de Estado que participaram esta semana, em Nova York, de uma Cúpula do
Clima das Nações Unidas, que buscou dar um novo impulso às negociações
internacionais para limitar o aquecimento global, antes da Conferência Crucial
de Paris, prevista para 2015.
Aliás, Dilma (o Brasil) não assinou o acordo para reduzir o desmatamento
(Declaração de Nova York sobre Florestas); assinado por 28 governos, entre eles
os Estados Unidos, Canada e vários países da União Europeia, além de empresas,
grupos indígenas e organizações não-governamentais. Dilma não assinou.
O caro leitor, como cidadão brasileiro, concorda com a atitude da presidente?
Voltemos para a água.
A população mundial não pára de crescer, e a água vem se tornando cada vez mais
rara.
A principal causa deste desequilíbrio é o aquecimento climático. À medida que a
temperatura segue aumentando, a evaporação da água dos rios e de todos os
cursos de água em geral torna-se mais importante. Com isso, a quantidade de
água doce disponível vai diminuindo.
Todavia, o grande culpado pela rarefação da água é o crescimento das formas de
poluição de origem urbana, industrial e agrícola.
A salinização das águas doces, que é provocada pela exploração excessiva dos
lençóis freáticos costeiros ou dos rios, as torna igualmente impróprias para o
consumo. Com isso, elas não podem ser aproveitadas sem custosos processos de
saneamento prévios.
Ora, as necessidades de água vêm aumentando sem parar. O crescimento da
população mundial, que ocorre essencialmente nas grandes metrópoles, vem
concentrando a demanda em determinadas regiões, o que complica o abastecimento
de água potável.
Atualmente, uma proporção de 70% em média da água doce utilizada em todo o
mundo é destinada ao setor agropecuário. Gasta-se 215 litros de água para cada
quilograma de carne bovina produzida.
Apesar da seriedade da situação, a Terra continua a receber diariamente
contínua devastação da floresta amazônica, vazamentos de óleo nos mares,
derretimentos das grandes geleiras, buracos na camada de ozônio, poluição dos
ares e águas, aquecimento global e esgotamento dos recursos naturais.
Do outro lado da moeda, a desvalorização do ser humano, o aumento das drogas, o
efeito devastador do desequilíbrio ecológico, a perda da dignidade, a inversão
dos valores sociais, o aumento da massa humana sem rumo, a fome, as
desigualdades sociais, os preconceitos, as guerras, o terrorismo, a
globalização da miséria, o medo, a incerteza do futuro, tudo isto cria uma
névoa espessa de energia negativa em volta de nosso mundo.
Tudo está ligado! A degradação do ser humano e a do planeta estão intimamente
unidos e da mesma forma as soluções para a questão. Se a espécie homo sapiens
fosse racional.
Resumo da ópera: o racional seria construir uma política viável de uso (e reuso)
adequado da água, com gestão responsável para captação e armazenamento desse
recurso indispensável para a vida.
A Terra está sendo saqueada e ela é a nossa casa! Seria a humanidade suicida?
--------------------------------
A água nossa de cada dia
Hoje de manhã, enquanto levava meu filho para a escola,
assisti a diversas cenas de desperdício.
Rua após rua, homens e mulheres usavam mangueiras para lavar
calçadas e carros com jorros e jorros de água potável.
Nos primeiros casos cheguei a diminuir a velocidade do meu
carro para sinalizar aos dissipadores que não deveriam estar fazendo aquilo.
Mas eles olhavam, sem entender o que eu queria passar com os gestos… e
continuavam com as torneiras abertas.
Nos casos seguintes, desisti.
Só olhava, desolado, toda aquela água preciosa escorrendo
pela calçada, pelas sarjetas…
Se voltar a percorrer o bairro nesta bela manhã de abril
provavelmente vou surpreender mais dissipadores em ação.
Talvez já lavando carros, mais pátios e calçadas.
E vou, de novo, ficar triste com o desperdício escancarado,
explícito, irresponsável.
O que fazer para que nós, nossos filhos e os filhos de
nossos filhos tenham água de boa qualidade e em quantidade no futuro?
Acho que, para começar, falar com as crianças.
Se os adultos dão lições de desperdício, as crianças podem,
no tempo, reverter o processo.
Enquanto crianças, podem entender melhor a necessidade de
preservamos nossos recursos naturais. Água, inclusive.
Quando crescerem, vão substituir os adultos insensatos de
hoje já com atitudes corretas no cuidado com o meio ambiente.
Longe de mim a idéia de transformar quem quer que seja em
vigilante, patrulheiro, inspetor de recursos naturais.
Também seria insensato. Em alguns casos até perigoso.
Tem gente que não aceita críticas.
Mas se cada um de nós pudesse passar aos filhos, às
crianças, em geral, propostas, idéias e conselhos para buscarem a economia, a
racionalização do uso da água, teríamos um início de caminho já sinalizado.
E enquanto crianças e jovens vão se conscientizando, vamos
pensando, num modo de chegarmos até os dissipadores adultos com orientação e
informações.
Pra começar, à volta da escola, já vou falando sobre o
assunto com meu filho.
De novo, porque lá em casa o assunto já é velho e conhecido.
Mas bons conselhos podem ser repetidos… e acumulados.
E cuidados com nossos recursos naturais deveriam merecer até
mesmo algum tipo de saudação. Assim, como dizemos bom dia, boa noite, até logo,
poderíamos começar a dizer: salvou água, hoje? apagou a luz que não está
usando? salvou uma árvore? pensou nas crianças que não tem água para beber?…
Pode parecer meio dramático. Mas antes um dramático falado
do que sentido.
Enquanto é tempo.
Mauricio de Sousa
27.04.2001
|
Artista: Michael Eingle - Obra: This Is The Way
|
|
|
Quanto tempo levaremos para entender que estamos no mesmo
barco?! Quanto tempo ainda precisaremos para entendermos que a árvore que é
derrubada láááááááááááááá na Amazônia nos ferra aqui. E olha que esse
"aqui" pode ser em qualquer lugar do mundo. Das duas uma: ou
começamos a entender que estamos no mesmo barco ou investimos em tragédias
humanas inevitáveis em pouquíssimo tempo. Como os americanos fazem. Lascam-se
para o mundo e para as árvores que caem para sustentar o luxo deles, porém
investem em salvamento e treinamento de bombeiros. Sem mimi e xororo.
Durante o atual governo brasileiro nunca se desmatou tanto a
Amazônia. Derrubaram árvores, queimaram floresta e abriram campo para a
pecuária. O resultado?! Falta de água no sul e sudeste brasileiro. A umidade
que deveria vir da floresta amazônica através dos "rios aéreos" secou
e isso está deixando os Estados do Sudeste e Sul brasileiros à deriva.
Especialistas já alertam para um êxodo urbano da capital paulista nos próximos
anos e isso, a cada dia, parece mais inevitável ainda. A lógica é simples:
corta árvore lá...falta água aqui!
Precisamos nos doer com o desmatamento. Precisamos sentir dor
quando falam em poluição de rios e nascentes, mas ainda não sentimos dor alguma
e o que fazemos é reclamar sem encontrar saída. A amazônia é longe e pouco nos
importa se aumentou ou não o desmatamento. Queremos banho demorado, piscina
gelada e lavar as calçadas com água potável. Não vai rolar. Em pouco (ou
nenhum) tempo teremos que parar os esbanjamento de água limpa. Não teremos mais
e a que tivermos ficará impagável.
Aquela máxima de que queremos sombra, mas não plantamos
árvores nos cabe cada vez mais. O chapéu achou a cabeça e não podemos dormir
mais tranquilos. Ainda assim achamos que Deus vai mandar chuva e que São Pedro
vai deixar de ser fanfarrão e nos salvar. Não vão. Ninguém pode nos salvar além
de nós. Precisamos entender rapidamente o que ainda, em milhares de anos, não
entendemos. O planeta é um sistema fechado e que logo estará saturado de
sujeira e gente. E aí, o que faremos?!
Ainda temos tempo, pouco mas temos. Precisamos trabalhar
para explicarmos para nós mesmos que os recursos do planeta são FINITOS.
Acabam. Enquanto tratarmos o mundo como uma coisa qualquer que se regenera e
que podemos avacalhar que alguém dará jeito estaremos fadados ao fracasso
humano nesse mundão. Mudar não é mais opção...é obrigação. Ou mudamos ou
mudamos...e para ontem. Corram humanos que ainda dá tempo, pouco mas dá.
----------------------
Desperdício e disputas pela água no Brasil
Tatiana de Oliveira Takeda
A ilusória abastança dos recursos hídricos no Brasil
tem dado guarida ao desperdício da água, com uma poluição desordenada,
provocada também pela não realização de investimentos necessários para
despoluição de mananciais e uma consciência política e educacional do conceito
da água que, ainda, infelizmente, é considerada um bem livre, abundante e sem
valor econômico.
No que toca ao desperdício da água tratada brasileira, os
resultados são ultrajantes. Mais de 50% da água tratada é desperdiçada em
capitais como Porto Velho, Macapá, Teresina, São Luis, Maceió, Manaus e Rio de
Janeiro.
Ademais, localiza-se no Brasil o bairro recordista mundial
em desperdício de água por habitante. Trata-se do Setor Lago Sul, região nobre
de Brasília, Distrito Federal. De acordo com a Agência Brasil, o gasto médio de
água por pessoa no bairro chega a 1.000 litros por dia, enquanto em muitos
países africanos a média diária é de menos de 1 litro.
O desperdício tem sua principal raiz na irrigação. De acordo
com Manuel Alves Filho (Tese foca uso racional da água na agricultura. Jornal
da Unicamp. São Paulo: 17 a 31 de dezembro de 2007, p. 4) a agricultura tem
grande peso no consumo de água: “A agricultura irrigada tem sido apontada como
uma das grandes vilãs do desperdício de água no Brasil. O manejo inadequado por
parte de agricultores tem levado ao consumo exagerado desse recurso natural.
Não por outra razão, alguns estados, entre eles São Paulo, criaram nos últimos
anos legislações impondo a cobrança pelo uso da água na irrigação, bem como em
outras atividades produtivas, como forma de combater abusos”.
O aumento das áreas irrigadas tem aumentado a ocorrência de
animosidades em diversas partes do Brasil e já é notório o crescimento de
conflitos entre os vários usuários da água, bem como aos relativos a aspectos
institucionais, envolvendo a dominialidade dos corpos de água e sua influência
na implementação dos instrumentos de gerenciamento dos recursos hídricos.
Há uma década já eram registradas mortes causadas pela
disputa hídrica em Birigui/SP, no Vale do Rio Verde Grande/MG, na bacia do Rio
Salitre/MG, etc. No ano de 2001, a estiagem baixou o nível do reservatório de
Sobradinho, na Bacia do São Francisco, gerando uma disputa entre agricultores e
o setor elétrico. A ANA teve que atuar como mediadora na quizila (BEI
Comunicação. 2004, p. 142). Aliás, os casos mais notórios podem ser observados
na bacia do São Francisco, em que as projeções de demanda de água para atender
à irrigação, à navegação, à transposição, ao provimento humano e de animais e à
manutenção da geração das atuais usinas hidrelétricas têm provocado conflitos
de toda ordem, inclusive política, como se observa com relação à questão da
transposição.
Como se vê dos exemplos lançados, o desperdício detectado em
todo o território brasileiro começa a caminhar de mãos dadas com as disputas
deflagradas em regiões onde as conseqüências daquele revelam um temor pelo fim
dos mananciais.
Diante tal conjuntura, as providências devem ser tomadas, de
preferência, de forma regionalizada, ou seja, via Unidades Federativas, com o
apoio de seus respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica.
No caso do Rio São Francisco, nos últimos tempos, várias
providências têm sido consolidadas. Entre elas, a “cobrança pelo uso da água”.
Este instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos tem por escopo
primordial a mitigação da poluição e a geração de receita para a gestão hídrica
local, tornando-se assim, uma forte aliada no combate ao desperdício e
consequentes disputas pelo uso da água.
Informações
Sobre o Autor
Tatiana de Oliveira Takeda
Advogada, assessora do Tribunal de Contas do Estado de Goiás
- TCE, professora do curso de Direito da Universidade Católica de Goiás - UCG,
especialista em Direito Civil e Processo Civil e mestranda em Direito, Relações
Internacionais e Desenvolvimento
O mundo amarga a escassez de água
Tatiana de Oliveira Takeda
No tocante à existência da hidrosfera, como os
cientistas chamam o sistema formado pelas águas, 97,5% da mesma é salgada.
Apenas 2,5% do total é água doce e, desses, somente 0,3% vai para os rios e
lagos, ficando disponível para uso. O restante está em geleiras, icebergs e em
subsolos muito profundos, ou seja, o que pode ser potencialmente consumido é
uma pequena fração.
Quanto à distribuição da água doce superficial no globo,
está definida da seguinte forma: a) América – 46,53%; b) África – 9,48%; c)
Ásia – 31,59%; d) Europa – 6,79%; e) Oceania – 5,61%.
Estes dados vêm reforçar em números o fato de que a água não
foi distribuída igualmente entre todos os países. As regiões mais ricas
costumam dispor de maiores índices de pluviosidade e de tecnologias mais
avançadas que permitem utilizar os recursos hídricos de forma eficiente. Em
contraste, muitos dos países mais pobres estão em regiões áridas ou ilhas, onde
os mananciais são raros. Outros têm uma distribuição desigual das chuvas ao
longo do ano, o que impede uma utilização satisfatória.
Vale ressaltar que os países com menor disponibilidade de
água doce no mundo são o Egito (26 m3 per capita por ano) e os Emirados Árabes
(61 m3 per capita por ano), ao passo que os mais ricos neste recurso são
Suriname (479.000 m3 per capita por ano) e Islândia (605.000 m3 per capita por
ano).
Há previsões de que em cerca de 30 anos, a quantidade de
água disponível por pessoa em países do norte da África e Oriente Médio estará
reduzida em 80%. A projeção que se faz é de que, nesse período, 8 bilhões de
pessoas habitarão a Terra, em sua maioria concentradas nas grandes cidades.
Será necessário, então, produzir mais alimentos e mais energia, aumentando os
consumos doméstico e industrial de água. Essa água poderá ser buscada além das
fronteiras dos países, com risco de deflagrar guerras.
Veja-se o alerta do doutrinador João Alberto Alves Amorim
(Direito das Águas, 2009, p. 125/126): “a demanda mundial por água dobra a cada
21 anos. Aproximadamente, 40% da população mundial não possui acesso à água
limpa e 230 milhões de pessoas vivem em área de escassez hídrica. Mais de 2
bilhões de pessoas não possuem saneamento básico adequado e a cada hora, mais
de 600 pessoas morrem por causa de água contaminada, imprópria par ao consumo
ou inexistente. Dezoito por cento da população mundial – aproximadamente 1,1
bilhão de pessoas – não têm acesso à água potável, dos quais dois terços vivem
na Ásia, 300 milhões somente na China”.
Ora. Se a demanda mencionada duplica a cada 21 anos, o dobro
mais rápido que o crescimento populacional, no ano de 2025 a necessidade por
água provavelmente superará a disponibilidade em 56%. Quatro bilhões de pessoas
não disporão de recursos hídricos nem para suas necessidades básicas e dois
terços da população mundial poderão não ter acesso à água potável.
A ONU e outras entidades vêm discutindo sobre o assunto e
propondo medidas e ações com o objetivo de dar racionalidade e eficiência ao
uso da água nos diversos países integrantes dessa organização mundial. Em 1997,
recomendou que se concedesse prioridade absoluta aos graves problemas de água
doce, com que se vêem confrontadas numerosas regiões do mundo. Para isso, foi
reconhecido que se faz necessário a colaboração multilateral dos Estados e
recursos financeiros adicionais provenientes da comunidade internacional.
Em 2000, a ONU organizou a chamada Cúpula do Milênio, que,
dentre outras resoluções, determinou que até 2015 se reduzisse à metade o
número de pessoas sem acesso à água potável e em 2002, a Rio+10 – Conferência
das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável promovida na África do Sul
– propôs a extensão desse compromisso, reduzindo à metade o número de
indivíduos sem acesso ao saneamento básico, no mesmo prazo. Todavia, os países
que assinaram os dois documentos não definiram como pretendiam cumprir tais
metas, nem os valores que desembolsariam para alcançá-las.
Como bem ensina o escritor Plauto Faraco de Azevedo
(Ecocivilização, 2008, p. 106), “se, nos próximos 10 ou 15 anos, não se chegar
a alguma solução política concertada, o domínio da água provocará múltiplos
conflitos territoriais, conducentes a ruinosas batalhas econômicas, industriais
e comerciais. A principal fonte de vida da humanidade vai se transformar em um
recurso estratégico vital e, portanto, em uma mercadoria rara, particularmente
lucrativa nos novos mercados”.
Desta forma, nota-se que se não houver uma política global
de contenção deste bem finito, ao final, todas as nações amargarão tanto a
escassez, quanto a cobiça que gerará investida de outros países carentes de
recurso hídrico.
O paradoxo da água
Setenta por cento da superfície do planeta é coberta por
água - mas só 1% de todo esse enorme reservatório é próprio para o consumo do
homem. O desafio é evitar a poluição, o desperdício e distribuir melhor esses
recursos hídricos
Uma das visões mais espetaculares do século passado foi a
primeira imagem da Terra feita do espaço, na década de 60: uma gigantesca massa
azul, com 70% de sua superfície coberta por água. Neste início de século, uma
preocupação recorrente e justificada éa de que a água, tão abundante, se torne
paradoxalmente cada vez mais escassa para uso humano. Em março deste ano, o
secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, decretou os anos
que vão de 2005 a 2015 como a Década da Água. O objetivo éque nesse prazo se
reduza à metade o número de pessoas sem acesso a água encanada, cifra que
ultrapassa 2 bilhões de pessoas. Mantidos os atuais níveis de consumo,
estima-se que em 2050 dois quartos da humanidade viverão em regiões premidas
pela falta crônica de recursos hídricos de qualidade. Éum dado gravíssimo
quando se leva em consideração que 60% das doenças conhecidas estão
relacionadas de alguma forma com a escassez de água. Como isso épossível em um
planeta com tantos recursos hídricos? O problema pode ser equacionado em dois
termos: má distribuição e má gestão. O primeiro se deve à própria natureza, o
segundo éculpa do homem. A água érealmente a substância mais comum na Terra. No
entanto, 97% dela está nos mares, sendo assim imprópria para o uso agrícola e
industrial e para o consumo humano. Outros 2% estão nas calotas polares, em
forma de gelo ou neve. Resta, assim, apenas 1% de água doce, aquela disponível
nos rios, lagos e lençóis freáticos. Essa água éextremamente mal distribuída.
Países como o Canadá e a Finlândia têm muito mais do que precisam, enquanto o
Oriente Médio praticamente nada tem.O Brasil, dono da maior reserva hídrica do
mundo 13,7% da disponibilidade de água doce do planeta, expressa internamente
esse paradoxo. Dois terços da água estão concentrados na região com menor
densidade populacional, a Amazônia. Isso significa que um brasileiro de Roraima
tem 1 000 vezes mais água à disposição do que um conterrâneo que vive no
interior de Pernambuco. A água épesada e difícil de transportar. Levá-la de um
lugar a outro tem sido o grande desafio dos seres humanos desde o tempo dos
romanos, que construíam aquedutos por toda parte. O segundo problema relativo à
água éa má gestão e, nessa área, há outro paradoxo. Mesmo sendo essencial para
a economia, a água sempre foi dada de graça. Atérecentemente, nem os
industriais nem os agricultores, para não falar dos consumidores domésticos,
pagavam pela água, apenas pelo serviço de distribuição. Éclaro que,
aplicando-se à risca o princípio econômico segundo o qual não existe almoço
grátis, esse raciocínio não se sustenta. No fundo, toda a sociedade paga quando
o governo subsidia empresas estatais para que tratem a água que um empresário
vai usar em sua fábrica, ou quando constrói uma barragem para que um rio seja
colocado à disposição dos lavradores para a irrigação. Quando não se paga pelo
que se consome, o resultado inevitável éo desperdício. Por isso, quando se fala
em solucionar os problemas da água no mundo, uma palavra surge como um mantra:
precificação. Significa que o governo, que éo dono em última análise dos
mananciais naturais de um país, deve cobrar pelos recursos hídricos consumidos
por seus cidadãos, revertendo o dinheiro para a cobertura dos custos de
tratamento da água e preservação dos ecossistemas ligados a ela.Isso já ocorre
em países como França e Alemanha, considerados exemplares na gestão de água. No
procedimento mais utilizado, o empresário ou o agricultor paga duas vezes: pela
água em si e pela licença para jogar os resíduos nos rios. Com isso, ele
éincentivado a gastar pouco e a tratar ele próprio a água antes de devolvê-la à
natureza.
Veja só o incrível texto argumentativo “A guerra da água” escrito
por
Leonardo Boff defendendo o nosso
precioso, necessário e indispensávelbem universal: a água!
Confirmado e sustentado pela Ciência, a água é a fonte de
origem da vida. E devida à escassez da água potável sob
a insconsciência humana por sua utilização indevida,
podemos talvez confirmar que, pela água, a vida na Terra se exitinguirá.
Leonardo Boff, se atenta sobre o caminho que está
levando a água para a comercialização. Fala sobre conflitos que já existem por
causa da falta de água, a guerra para o controle do acesso a água potável,
entretanto, Boff não deixa de relatar as soluções possíveis para que
evitamos o desemrolar desse prejuízo global.
Fique atento sobre essa reflexão e ainda mais atento
sobre o destino da água!
A guerra da água
A água, objetivamente, é um bem natural comum, vital e
insubstituível. Ocorre que vivemos numa quadra histórica em que o modo de
produção dominante e hoje globalizado transforma literalmente tudo em
mercadoria, até as coisas mais sagradas e vitais. Os direitos humanos inalienáveis
são rebaixados a necessidades humanas. Para a sua satisfação deve-se obedecer
as leis da oferta e da procura, próprias do mercado. Só tem direitos quem puder
pagar e for consumidor e não quem for pessoa, independente de sua condição
econômico-social. É uma traição aos ideais da modernidade.
A água doce, por ser um bem cada vez mais escasso – somente
0,7% é acessível ao consumo humano – mais e mais ganha preço e se transforma em
objeto da cobiça mundial. Vigora uma corrida frenética de grandes multinacionais
para privatizar a água, transformá-la em recurso hídrico e em mercadoria com a
qual se pode ganhar muito dinheiro. Cuidou-se para que fosse demolida a
compreensão humanística e ética de que o acesso à água fosse direito humano
fundamental. Conseguiu-se que fosse reduzida a uma necessidade como qualquer
outra, cuja satisfação deve ser encontrada no mercado. Foi o que, efetivamente,
declarou o Segundo Fórum Mundial da Água em 2000: a água não é mais um direito
inalienável mas uma mera necessidade humana.
Agora começou uma guerra ferrenha pelo controle do acesso à
água potável. Quem controla, detém um poder de vida ou de morte sobre milhões e
milhões de pessoas. Hoje 1,6 bilhão de pessoas tem grave insuficiência de água
e em 2020 serão 3 bilhões numa humanidade com 8 bilhões de pessoas. Estas
poderão ver negado o acesso à água porque não terão como adquiri-la e estarão
sob risco de vida.
Há tempos o vice-presidente do Banco Mundial, Ismali
Serageldin dizia com razão :”se as guerras do século XX foram por petróleo, as
do século XXI serão por água potável”. Com efeito, atualmente existem 50
conflitos no mundo por causa da falta de água, já que 40% da população mundial
vive junto a 250 bacias fluviais. A bacia do Trigre e do Eufrates é o centro do
contencioso entre a Turquia, a Síria e o Iraque; a bacia do rio Jordão, entre
Siria, Palestina, Israel, Jordânia e Líbano; a bacia do Ganges e do Indo entre
Bengladesh, Índia e Paquistão e assim a bacia do Nilo e do Zambesi.
Como enfrentar as hidromáfias e evitar as guerras por água?
Em primeiro lugar, demolindo a compreensão materialista que subjaz à lógica das
privatizações da água. Ao considerar tudo mercadoria, ela destrói qualquer
sentimento ético, ecológico e espiritual, ligado diretamente à água. Em segundo
lugar, resgatando o sentido originário da água como matriz de todas as formas
de vida sobre a Terra. A água bem como a vida, jamais poderão virar mercadoria.
Em terceiro lugar, criando, como muitos o estão propondo, a consciência de que
um necessário pacto social mundial deve ser feito em cima do tema da água já
que todos precisam dela para viver. Por fim, em nome desta consciência
planetária não se há de conceder a ninguém o direito de privatizar a água. Ela
deve ser excluída das negociações comerciais a nível mundial.
A água é um dom que a natureza ofereceu à vida e a cada um
de nós. 70% de nosso corpo é composto de água. Porque é tudo isso, a água
constitui uma das metáforas mais significativas do Divino que está em nós e no
universo e da sacralidade de toda a vida. Como não lutar por ela e cuidá-la?
Crise hídrica: crônica de uma morte anunciada há mais de uma
década
A crise hídrica foi prevista há mais de uma década, no
entanto muito pouco foi feito. Neste artigo é apresentada uma abordagem crítica
da inércia da gestão pública e suas consequências jurídicas
O Cantareira é um dos maiores sistemas de água do País e a
realidade socioambiental que hoje ele apresenta, está envolvida com diversos
temas tais como gestão da água, conflitos de uso, conservação ambiental e disponibilidade
hídrica. “Várias organizações e instituições que atuam no Cantareira, apesar de
terem objetivos comuns, não interagem entre si”, conta Micheli Kowalczuk
Machado, que é mestre e doutora em Ecologia Aplicada e que dirigiu pesquisa
pertinente a este tema na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq) da USP, em Piracicaba. Nessa pesquisa foram avaliados, entre 2013 e
2014, a governança e o diálogo de saberes que envolvem o Sistema Cantareira,
que capta e trata a água para o abastecimento de cerca de 8,8 milhões de
pessoas da Grande São Paulo. O estudo permitiu constatar que a atual situação
do Sistema é um problema de governança, acentuado pelas questões climáticas e
por sua realidade socioambiental. Falta de articulação e diálogo também
contribuíram com o colapso do Sistema.
Para ciência, a outorga do Sistema Cantareira é da
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), concedida em
agosto de 2004 com o prazo de dez anos. Apesar de ter vencido em agosto do
último ano, sua vigência foi prorrogada até 31 de outubro de 2015 (Resolução
Conjunta ANA-DAEE no. 910, de 07 de junho de 2014). “É claro que a Sabesp tem
enorme responsabilidade sobre esse Sistema, mas temos de considerar também a
responsabilidade do governo, dos Conselhos Gestores das Unidades de
Conservação, dos Comitês de Bacias Hidrográficas e da sociedade civil em geral.
São todos atores que interferem diretamente na realidade do Sistema”,afirma a
pesquisadora da Esalq. Para se mensurar o tamanho da irresponsabilidade da
Sabesp e de outros órgãos distribuidores de água, são consideradas
inadmissíveis perdas de 30% da água tratada, como acontece no Rio de Janeiro e
São Paulo, e até de 60%, em Belém, no Pará. O ideal é (uma taxa) de 10%. Até
20%, como nos países desenvolvidos. “Acima disso, os governos tem que ficar de
castigo olhando para a parede”, brincou o professor Paulo Canedo da UFRJ.
A pesquisa da Esalq mostra ainda que as ações desenvolvidas geralmente
estão relacionadas com obras de infraestrutura e saneamento, “isso quando elas
acontecem”. Fatores como a vontade política; a demanda crescente pelo uso da
água; a degradação ambiental dos mananciais; a expansão urbana desordenada; o
desperdício no próprio Sistema e também em sua distribuição e a falta de um
real envolvimento e conhecimento da população acerca da realidade existente na
área demonstram que não se trata somente de um problema de falta de chuvas.
Desta feita a pesquisadora decidiu avaliar como são e como devem ser a
governança e o diálogo de saberes que envolvem o Sistema. Para tanto adotou
como metodologia uma pesquisa qualitativa realizada em três fases:
exploratória, trabalho no campo e análise dos resultados. Micheli se envolveu
então na pesquisa bibliográfica, na aplicação de questionários com perguntas
abertas para os representantes de todos os 79 organismos consultivos e gestores
presentes no Sistema Cantareira. Realizou ainda entrevistas com representantes
do Conselho da Área de Proteção Ambiental (APA) Fernão Dias, em Minas Gerais;
Conselho Gestor Unificado das APAs Piracicaba/Juqueri-Mirim Área II, do Sistema
Cantareira e da Represa Bairro da Usina, em São Paulo; e Comitê Federal das
Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Por fim, realizou a análise dos
resultados, com apresentação de um mapa que demonstra a sobreposição das
Unidades de Conservação e dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Sistema
Cantareira e a apresentação e sistematização dos dados obtidos nas fases
anteriores.
“O que a pesquisa deixa claro é que atualmente não existe nenhum tipo de
mecanismo de interação entre as ações das Unidades de Conservação e dos Comitês
de Bacias Hidrográficas”, afirma. Segundo seu ponto de vista a população deve
estar realmente envolvida nas discussões, por isso há também a necessidade de
elaborar estratégias que ampliem a participação e a mobilização social e que
trabalhem o diálogo de saberes. A pesquisa revela que existe potencial para que
a governança e o diálogo aconteçam, tendo em vista a existência de fóruns de
debate e de instrumentos que buscam garantir a participação de diversos atores
sociais nas discussões de temáticas relacionadas ao Sistema. Mas isso não
acontece. Assim, se não forem realizadas mudanças na forma como os recursos hídricos
são geridos, teremos apenas medidas paliativas que terão resultados por um
curto período de tempo, além de novos episódios de escassez, talvez ainda
piores e que afetarão a economia, a qualidade de vida e o meio ambiente.
A preservação e a conservação das áreas de mananciais estão entre as ações que
costumam ser realizadas na busca por melhorias. Mas muito pouco resultado se
vê. É só olhar o entorno de nossos reservatórios para vermos que ali a ocupação
é totalmente desordenada, gerando danos enormes ao meio ambiente e à água a ser
fornecida à população. “Nascentes preservadas garantem quantidade e qualidade
d’água e sua conservação é fundamental para a manutenção dos recursos
hídricos”, declara Micheli. Mas se não houver tratamento de esgoto nos
municípios, esses recursos estarão expostos à contaminação, o que prejudica o
abastecimento. E um programa de conscientização para os usuários (população,
indústrias e produtores rurais) que estimule a conservação e o uso consciente,
mostra-se imprescindível. Daí afirmarmos, com toda autoridade, que a chuva (ou
sua falta) não é a única responsável pela crise hídrica que estamos
enfrentando. As poucas ações desenvolvidas estão sempre relacionadas com obras
de infraestrutura e saneamento. Coisas como a vontade política; a demanda
crescente pelo uso da água; a degradação ambiental dos mananciais; a expansão
urbana desordenada; o desperdício no próprio sistema(que chega aos 30% da água
já tratada) e a falta de um real envolvimento e conhecimento da população
acerca da realidade existente na área demonstram que não se trata somente de um
problema de falta de chuvas, mas de um conjunto de fatores que tem que ser
enfrentados, analisados e sanados. Na verdade, desde pequenos, quando entramos
na escola, aprendemos que o Brasil é um país de grande potencial hídrico, onde
jamais faltará água. Mas que o alimento vai faltar, pois enquanto ele cresce em
progressão aritmética, a população cresce em progressão geométrica...Que
engano! Não vamos negar a fome no mundo, em especial na África. Mas a falta de
água bate à nossa porta, derrubando o ensino centenário sobre nossa grandeza
hídrica. Na verdade temos muitos rios e mananciais. Mas não soubemos ensinar a
população a respeitá-los e preservá-los. E aqui a conta não sobra só para a
população, não! Quantos municípios despejam seus esgotos direto nos rios? São
incontáveis...Até em São Paulo vemos descartadouros jogando esgoto não tratado
nos Rios Pinheiros e Tietê! Chegamos então à triste conclusão de que a crise hídrica
está muito além da simples falta de chuvas.
Há apenas alguns meses da COP21 (que será realizada neste fim de ano em Paris e
tem em sua agenda o estabelecimento de um acordo global sobre mudanças
climáticas), tratamos com a escassez de um produto que sempre propalamos
inesgotável. Nos orgulhávamos de ter o maior rio do mundo em volume de água-o
Amazonas. Mas isso de nada adianta para as regiões que estão sofrendo com a
crise hídrica. Até implantação de rodízio de 5 dias sem água e 2 com água já
foi aventada. Diante da gravidade da situação, a Frente Parlamentar
Ambientalista, ainda que tardiamente, resolveu promover no último dia 4, um
debate, dos quais participaram expoentes da área ambiental tais como Antonio
Herman de Vasconcellos e Benjamin, Ministro do Superior Tribunal de Justiça;
Fabio Feldmann, primeiro secretário-executivo do Fórum Paulista de Mudanças
Climáticas Globais e Biodiversidade; Carlos Nobre, climatologista, Secretário
de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação que integra o Painel de Alto Nível Para
Sustentabilidade Global da ONU – Organização das Nações Unidas e Malu Ribeiro,
coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica. Ótimos nomes.
Essa Frente Parlamentar Ambientalista diz estar preocupada com o meio ambiente
no país. Mas uma pergunta não quer calar: onde estava ela, quando ocorreu a
ocupação desordenada do entorno de nossos mananciais? Ou quando municípios
mantiveram a prática de despejar esgoto in natura em nosso rios e represas? Ou
ainda quando desmataram o entorno de nascentes? Só agora, quando a crise
hídrica assume uma proporção alarmante, ela resolve promover um debate? E após
o debate, que providências foram tomadas? Ou só quis fazer bonito para “sair
bem no retrato da COP21”? Os especialistas que participaram dos debates são
reconhecidamente autoridades no assunto. Devem ter indicado, ao menos, um
caminho a seguir. Mas a conclusão que a Frente chegou é que “a crise hídrica
que afeta as regiões sudeste e nordeste do país, com impactos sociais,
econômicos e ambientais, impõe a urgente necessidade da criação, pela Frente
Parlamentar Ambientalista, do “Comitê Gestor da Crise da Água no Brasil”. Meu
Deus! A pesquisa da Esalq, dirigida por Michelli, aplicou questionários a 79(!)
organismos consultivos e gestores do sistema Cantareira. Vamos criar mais um
para nada fazer e deixar a situação chegar a um ponto pior do que já está? Não
necessitamos de novos comitês, organizações ou coisas do gênero. Necessitamos
de ATITUDES!
Os debatedores também concluíram que “o risco de que os reservatórios de água
da região sudeste possam chegar ao nível zero, após a utilização dos chamados “volumes
mortos” pelos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito
Santo, coloca o país em alerta.”
Bem, pelo que vimos, a Frente Parlamentar constatou o óbvio, aquilo que todo
mundo já sabia. E qual sua providência efetiva? Sugerir agora, no auge da
escassez, a criação de um comitê gestor da crise da água no Brasil? Para
quando? Isso já devia ter sido feito há pelo menos dez anos quando a Academia
Brasileira de Ciências enviou carta ao Governo Federal, alertando para a crise
hídrica vindoura e pedindo providências. Nada foi feito. Então, no último mês
de Novembro, a Academia produziu a Carta São Paulo, também enviada aos governos
de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, com uma lista de 12 aspectos que precisam
ser enfrentados na crise. Além de sugerir planos de contingência e políticas de
saneamento, eles destacam a necessidade de “capacitação de gestores” e
colocam-se à disposição para ajudar. Diante do que chamou de “política de
avestruz” dos governos, os membros da Academia disseram que a situação é
agonizante e recomendam redução de 15% do consumo de água e de energia elétrica
para tentar evitar uma situação caótica. Não há previsão de que as chuvas
consigam encher os reservatórios até o próximo verão. A íntegra da Carta
São Paulo, seu embasamento e recomendações pode ser lida em
http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=3758
Especialistas apontam a relação entre o desmatamento e a escassez de água e
alertam que a fragilização da Legislação Ambiental voltada à proteção das
florestas e a recuperação de nascentes e mananciais, tende a agravar os
impactos de eventos climáticos extremos, como enchentes, deslizamentos de
encostas e secas intensas.
A poluição da água decorrente dos baixos índices de saneamento básico, que
afeta mais de 70% dos grandes rios urbanos do país, aumenta a indisponibilidade
em regiões metropolitanas e municípios de médio porte. E políticas públicas
voltadas à gestão integrada dos recursos hídricos e meio ambiente, regulação e
governança, bem como instrumentos econômicos e de aprimoramento tecnológico,
precisam ser fortalecidos.
Muito bem, como já dissemos, os alertas foram ignorados e agora, numa ação
demagógica, a Frente Parlamentar Ambientalista, que ficou de braços cruzados
quando a catástrofe acontecia debaixo de seus narizes, diagnosticou o óbvio.
Mas não propôs solução melhor do que a futura composição de mais um comitê
gestor de águas.
Há poucos meses da COP 21, é preciso colocar a gestão da água e das florestas
na agenda estratégica do país, para enfrentamento de impactos decorrentes de
mudanças climáticas.
Descobriram como colocar o ovo de Colombo em pé! Por isso fico com a sobriedade
e conhecimento do ministro Herman Benjamin. Em entrevista concedida ao jornal O
Estado de São Paulo no último dia 8, o ministro que é especialista em Direito
Ambiental, afirmou que o desafio maior não está na criação de leis, mas na
implementação da legislação de recursos hídricos atualmente em vigor. Na
avaliação do ministro, o Brasil está "muito bem na fotografia
legislativa", mas "pessimamente na fotografia da implementação"
das leis.
Nessa mesma entrevista, Herman Benjamin abordou também a visão do STJ sobre o
tema e a importância de se encontrar formas mais rápidas para responsabilizar o
mau administrador público nesse campo.
Segundo o ministro, “a Justiça pode ajudar a controlar a atual crise hídrica,
mas dificilmente conseguirá exigir que os governos forneçam água aos
consumidores, se ela não existir.” Situação difícil,não?
E nessa situação de escassez, todo mundo começa a procurar fontes alternativas
de abastecimento. Nesse sentido o Ministro Benjamin tem sido muito requisitado,
tem trabalhado muito. Quando as pessoas começam a procurar por si mesmas, meios
de fornecimento de água, a primeira coisa que pensam é na perfuração de um
poço. E muitos o fazem, sem qualquer orientação legal e tampouco técnica,
podendo inclusive tirar água de um poço contaminado, o que acarretaria sério
problema de saúde pública. A esse respeito, o já citado ministro, no REsp
1.306.093-RJ, julgado em 28 de Maio de 2013, do qual foi relator, decidiu:
DIREITO ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. REGULAMENTAÇÃO DO ACESSO
A FONTES DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
“É possível que decreto e portaria estaduais disponham sobre
a obrigatoriedade de conexão do usuário à rede pública de água, bem como sobre
a vedação ao abastecimento por poço artesiano, ressalvada a hipótese de
inexistência de rede pública de saneamento básico. Os estados membros da
Federação possuem domínio de águas subterrâneas (art. 26, I, da CF),
competência para legislar sobre a defesa dos recursos naturais e a proteção do
meio ambiente (art. 24, VI, da CF) e poder de polícia para precaver e prevenir
danos ao meio ambiente (art. 23, VI e XI, da CF). Assim, a intervenção desses
entes sobre o tema não só é permitida como também imperativa. Vale acrescentar
que o inciso II do art. 12 da Lei 9.433/1997 condiciona a extração de água do
subterrâneo à respectiva outorga, o que se justifica pela notória escassez do
bem, considerado como recurso limitado, de domínio público e de expressivo
valor econômico. Nesse contexto, apesar de o art. 45 da Lei 11.445/2007 admitir
soluções individuais de abastecimento de água, a interpretação sistemática do
dispositivo não afasta o poder normativo e de polícia dos estados no que diz
respeito ao acesso às fontes de abastecimento de água e à determinação de
conexão obrigatória à rede pública.”
Para que entendam mais claramente o voto do ministro relator nesse caso, para
se perfurar um poço, uma vez que as águas subterrâneas pertencem à União,
torna-se imprescindível a outorga (autorização dada por órgão competente). O
art.26, inciso I da Constituição Federal, citado no Resp., diz que:
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
I.as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as
decorrentes de obras da União.
E o art. 24,VI da mesma Constituição Federal dispõe que:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre:
...
VI. florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição;
Expomos aqui também o Art.26, VI e XI da Constituição que
reza que:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios
...
VI. proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas;
...
XI. registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de
direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
territórios;
Devemos também expor o disposto no inciso II do art. 12 da Lei 9.433 de 1977 que
Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da
Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de
1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989:
Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os
direitos dos seguintes usos de recursos hídricos:
...
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo
final ou insumo de processo produtivo;
E também trazemos para dissipação de dúvidas, o Art.45 da Lei 11.445/2007 que
estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nos
6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de
junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11
de maio de 1978; e dá outras providências.
Art. 45. Ressalvadas as disposições em contrário das
normas do titular, da entidade de regulação e de meio ambiente, toda edificação
permanente urbana será conectada às redes públicas de abastecimento de água e
de esgotamento sanitário disponíveis e sujeita ao pagamento das tarifas e de
outros preços públicos decorrentes da conexão e do uso desses serviços.
Mas para que tenhamos recursos hídricos suficientes, essencial é a não agressão
ao meio ambiente. A esse respeito o Ministro Herman Benjamin dispôs que aquele
que agredir, danificar, explorar inadequadamente ou devastar o meio ambiente,
responderá pela recomposição do mesmo e por dano moral coletivo. Concernente a
essa abordagem há o REsp. 1.328.753-MG, julgado em 28 de Maio de 2013 e
que determina que:
OBRIGAÇÕES DE RECOMPOSIÇÃO DO MEIO AMBIENTE E DE COMPENSAÇÃO
POR DANO MORAL COLETIVO.
Na hipótese de ação civil pública proposta em razão de dano
ambiental, é possível que a sentença condenatória imponha ao responsável,
cumulativamente, as obrigações de recompor o meio ambiente degradado e de pagar
quantia em dinheiro a título de compensação por dano moral coletivo. Isso porque
vigora em nosso sistema jurídico o princípio da reparação integral do dano
ambiental, que, ao determinar a responsabilização do agente por todos os
efeitos decorrentes da conduta lesiva, permite a cumulação de obrigações de
fazer, de não fazer e de indenizar. Ademais, deve-se destacar que, embora o
art. 3º da Lei 7.347/1985 disponha que "a ação civil poderá ter por objeto
a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer", é certo que a conjunção "ou" – contida na citada norma,
bem como nos arts. 4º, VII, e 14, § 1º, da Lei 6.938/1981 – opera com valor
aditivo, não introduzindo, portanto, alternativa excludente. Em primeiro lugar,
porque vedar a cumulação desses remédios limitaria, de forma indesejada, a Ação
Civil Pública – importante instrumento de persecução da responsabilidade civil
de danos causados ao meio ambiente –, inviabilizando, por exemplo, condenações
em danos morais coletivos. Em segundo lugar, porque incumbe ao juiz, diante das
normas de Direito Ambiental – recheadas que são de conteúdo ético
intergeracional atrelado às presentes e futuras gerações –, levar em conta o
comando do art. 5º da LINDB (Lei de Introdução às Normas Direito Brasileiro),
segundo o qual, ao se aplicar a lei, deve-se atender “aos fins sociais a que ela
se dirige e às exigências do bem comum”, cujo corolário é a constatação de que,
em caso de dúvida ou outra anomalia técnico-redacional, a norma ambiental
demanda interpretação e integração de acordo com o princípio hermenêutico in
dubio pro natura, haja vista que toda a legislação de amparo dos sujeitos
vulneráveis e dos interesses difusos e coletivos há sempre de ser compreendida
da maneira que lhes seja mais proveitosa e melhor possa viabilizar, na
perspectiva dos resultados práticos, a prestação jurisdicional e a ratio
essendi da norma. Por fim, a interpretação sistemática das normas e princípios
ambientais leva à conclusão de que, se o bem ambiental lesado for imediata e
completamente restaurado, isto é, restabelecido à condição original, não há
falar, como regra, em indenização. Contudo, a possibilidade técnica, no futuro,
de restauração in natura nem sempre se mostra suficiente para reverter ou
recompor integralmente, no âmbito da responsabilidade civil, as várias
dimensões do dano ambiental causado; por isso não exaure os deveres associados
aos princípios do poluidor-pagador e da reparação integral do dano. Cumpre
ressaltar que o dano ambiental é multifacetário (ética, temporal, ecológica e
patrimonialmente falando, sensível ainda à diversidade do vasto universo de
vítimas, que vão do indivíduo isolado à coletividade, às gerações futuras e aos
processos ecológicos em si mesmos considerados). Em suma, equivoca-se, jurídica
e metodologicamente, quem confunde prioridade da recuperação in natura do bem
degradado com impossibilidade de cumulação simultânea dos deveres de
repristinação natural (obrigação de fazer), compensação ambiental e indenização
em dinheiro (obrigação de dar), e abstenção de uso e nova lesão (obrigação de
não fazer .
Mais claro, impossível. E nesse REsp não precisamos citar os artigos das leis,
pois o Ministro os explicita em sua exposição de motivos. Mas temos aí a
Amazônia sendo desmatada cada vez mais e mais, cursos de rios desviados para
atender a interesses empresariais de fornecimento de água e local de descarte
de resíduos, indústrias poluindo o ar sem qualquer punição, terras sendo
aterradas ou escavadas sem que para isso seja feito um estudo das consequências
futuras ,etc. Um bom exemplo dessa irresponsabilidade é o Ribeirão que corre em
meio à Avenida Ricardo Jafet (mais adiante transformada em Rodovia Imigrantes),
em São Paulo, que vez ou outra tem suas águas tingidas de azul por conta de uma
irresponsável tinturaria de tecidos existente em suas imediações.
Na verdade o que enfrentamos hoje é uma crise anunciada há mais de década. Mas
baseados naquele ensinamento de que somos um país de farto potencial hídrico e
que esse era um artigo que nunca iria nos faltar, pecamos ao não atentar para o
fato de que ele tem que ser cuidado, preservado, reposto e economizado. Sabemos
que tudo aquilo que desperdiçamos, um dia acaba. E é exatamente isso que
estamos vivendo hoje com a crise hídrica. E já arrumamos , como em todas as
situações de crise, um culpado. Desta vez, a saber,o “boi de piranha” é a
falta de chuvas...
Parte inferior do formulário